DISCURSO NO PASSADO

Algumas coisas podem ficar mal resolvidas com qualquer um de nós. Emprego, relacionamento e, de repente, algo acontece interrompendo a trajetória. Pode ser culpa nossa, ou não. Algum acontecimento extraordinário. Mudança de rumo. Uma decisão pessoal, que muda o curso da vida.

Quando isso acontece muita gente fica no passado com gosto de quero mais. Podemos mudar de emprego, de endereço, de profissão, deixando a porta aberta, mantendo amizades que serão curtidas durante a vida toda por meio de encontros casuais ou programados.

Conheço muita gente que ficou no quero mais. Mesmo estando bem, tem saudades do passado. Geralmente é assim, temos saudades do que foi bom. Muita gente muda para melhor, porém, não esquece os amigos.

Na caserna é assim. Ex-militares que se deram bem com a farda, hoje trabalham em outras ocupações, porém vivem comentando situações do tempo de quartel. Tem boas lembranças da época em que vestiam a verde oliva. São esses, os “ex”, que ficaram algum tempo incorporados os mais fanáticos e saudosos daqueles bons tempos, mesmo que a ocupação atual seja interessante.

No Brasil, as Forças Armadas ficaram 25 anos no poder, mas por fim vieram as eleições. Os militares se recolheram aos quartéis. Sofrerem muitas críticas, procedentes ou não, e em silêncio, com raras exceções aqui e ali, não se manifestaram. Deram tempo ao tempo, fizeram a autocrítica, curaram feridas e aprenderam o discurso!

Observe bem os comandantes que estão no centro do poder hoje, são “cascas grossas”, oficiais antigos. A maioria fez a academia – AMAM, nas décadas de 60, 70, 80, quando o ensino, o preparo, a filosofia militar, pelo menos no Brasil, era outra. Bem diferente. Sem querer entrar em debates a Democracia naqueles tempos engatinhava, para dizer o mínimo. Hoje todo cidadão, civil ou militar, tem consciência da importância e participação democrática de todos na definição dos rumos políticos do nosso país.

O nosso Presidente me parece atrelado ao discurso do passado. Na AMAM de antanho o discurso era outro. Os oficiais na ativa evoluíram na bagagem cultural. Repensaram enfrentamentos. Tornarem-se mais permeáveis, mais políticos.

Há contudo, discursos amarrados ao passado. Esperamos ações que representem o presente e visem o futuro melhor.