Rebentação

Olho além do espelho para enxergar a rebentação em mim, ondas quebradas de encontro à pedreira a que sujeitei meu ser.

_ Mulheres são fortes, filha! - diria minha mãe - Aguentam tudo com resignação.

Volto para o aqui e agora do espelho, e a marca no rosto desmente as falas maternais. O chão do quarto em desordem. A roupa julgada imoral, em tiras esfarrapadas.

_ Mulher direita não usa essas roupas filha! Memórias da infância outra vez. O choro das crianças me atina para a urgência. Reúno as forças que sobram, entre dor e humilhação e caminho até a porta. Estico os ouvidos. Há risco? Nada mais que não o som das crianças. Caminho decidida para o quarto onde foram poupadas da cena. O quadril que primeiro encontrou o chão, em estado de inutilidade.

_ Depois que tem filhos, mulher suporta qualquer dor! - Mamãe em minhas memórias. É o momento certo. Destranco a fechadura. acolho o desespero dos pequenos e caminhamos apressados para a porta principal. Tudo Será diferente, agora!

_ Não, minha filha! Ruim com eles, pior sem eles!

Não será dessa vez.

Haverá essa vez?