Uma Temporada no Inferno.

Passando pela era das trevas, o que posso perceber é que, apesar das maldições que me assolam, sou mais forte do que pensava. Minha trajetória neste terreno tortuoso e infértil me abriu pontos de vista totalmente invisíveis há um ano atrás, por exemplo, onde ainda transitava obscurecido e sem saber o que fazer, do que se tratava e mesmo onde estava. Vagava perdido pelo ecossistema procurando uma saída menos dolorida daquilo tudo. Por isso me embriagava constantemente, ao contrário de hoje, onde em primeiro lugar procuro compreender a situação em que me encontro e a partir daí buscar uma solução razoável. Sei de minhas limitações, do terreno onde estou pisando e das feras que me esperam lá fora da caverna. Feras às quais travo sangrentas batalhas diariamente. Vou sobreviver! Penso assim. Vou sobreviver! Todos os dias quando saio da caverna em busca de alimentos e vejo o sol lá em cima me aquecendo, me lembro que ainda é tempo de lutar. E mesmo que os sombrios nevoeiros tapem minha visão do sol, sei que ele estará lá e mesmo assim lutarei nas sombras. Acho que ouvi essa frase no filme Gladiadores.

Agora a luta do inimigo é tirar a minha liberdade. Antes lhe era suficiente me ver na sarjeta como um ébrio perdido. Como notou que sobreviveria àquilo e ainda daria a volta por cima, rindo, inclusive, em dados momento, o inimigo não se contentou e mudou sua estratégia de combate, ou seja, arrancar de vez minha liberdade e me colocar na cadeia. Sei que uma hora conseguirá, pois, como sou autônomo, tem vezes que passo temporadas sem receber nada para pagar a pensão (o inimigo é milionário). Mas isso não tem nada a ver. Tenho que pagar e pronto. O que valeria seria nosso prévio "diálogo verbal" sobre minha isenção desse múnus, já que no processo de divórcio, processo o qual eu mesmo fiz, onde ficaria estipulado que eu, por ter aberto mão de outros direitos, não precisaria pagar a pensão, mas, como sabem, o inimigo não tem palavra e muito menos cumpre acordos.

Esse diálogo sempre me remonta à conversa do cavaleiro com a morte no aclamado filme "O Sétimo Selo", de Ingmar Bergman, onde a morte o induz a erro numa partida de xadrez e acaba por fim cumprindo seu intento, ou seja, matando-o. Acho que no meu caso específico, o inimigo não chegará a esse ponto. Imagino que não, mas nunca se sabe ao certo. Na cadeia posso parar um dia, sim, por não conseguir arcar com o valor da pensão, mas certamente sairei com vida e mais resistente.

À luta!

As feras lá fora estão me esperando, e famintas por sangue e vingança!

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 27/05/2019
Reeditado em 27/05/2019
Código do texto: T6657741
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