GRAÇAS À BEBIDA

A natureza nos deu a água, mas o homem, em seu espírito dionisíaco, não se contentou com a sobriedade da vida. Viver sempre na lucidez dos dias, aos poucos, aos anos, aos séculos e aos milênios foi se tornando algo mais torturante do que viver no segredo do exílio. E o homem criou o vinho – o néctar dos deuses - há quem diga que os deuses criaram o vinho e os homens o roubaram...que seja! o espólio é tão importante quanto a riqueza de sua participação em nossas vidas. O vinho é a elegância vestida de roxo que desabrocha como uma rosa ao tocar o paladar das pessoas nervosas, trazendo-lhes calma. O vinho é a nossa alma em estado físico quando estamos sob a posse de seu líquido. E os homens criaram o bourbon, o scotch, o whisky, o single malte. Sim, há quem diga que essa é a bebida do homem de verdade, do macho-alfa. Deixando as baboseiras machistas de lado, o whisky é a bebida nobre, forte, tem gosto de metal, alumínio, chumbo, cobre, não se apazigua a qualquer paladar. Tal qual o vinho, quanto mais envelhecido melhor, amadeirado, acarvalhado, embalsamado em sarcófagos de pureza para não contaminar seu espírito. Não possuem religião, são laicos, servem a todos e o único mandamento que se deve respeitar é: num malte perfeito não existe defeito, portanto, respeite-o e o degustem como os “cowboys” ou “on the rocks”. E, por último as cervejas, essas as mais consumidas, disseminadas, mas com a sua admiração também preservada. Sua história é antiga, vem lá dos sumérios, e se estica aos dias de hoje, com seus milhões, bilhões, trilhões de litros consumidos anualmente. O charme da cerveja não está em beber muito, exagerar, pôr-se a prostrar-se como idiota nas mesas dos bares, soltando perdigotos e verborragias inúteis e pleonásticas insuportáveis; ou cair como um animal esquálido nas esquinas a regurgitar as toxinas que o envenenou. O charme da cerveja é que ela traz consigo o apelo da socialização, da degustação entre colegas e amigos. Passar uma tarde, uma noite, até bater uma aurora, num happy hour e não se perceber o passar das horas, enquanto se discutem e se debatem os assuntos mais triviais, até os mais chatos; papos de trabalho aos papos “cabeça”. É nessa tergiversação- à meia luz - cervejas de todos os tipos vão surgindo: da escura à mais encorpada; o chopp com colarinho, as largers, long necks; cervejas pilsen; extras; importadas, as nacionais, industrializadas, e as artesanais – para poucos paladares, mais raras. Enfim, assim o homem teve uma participação fundamental na evolução de sua espécie ao criar os líquidos etílicos. Imaginem o que seria de nossas vidas se todo final de semana tudo o que pudéssemos pedirem estabelecimentos comerciais, tipo: restaurantes, bares, boates e churrascarias fosse somente água e leite. Tipo isso: “E aí, vamos sair mais tarde para tomar umas caixas de longa-vida?” ou “Estou precisando dar um tempo na bebida... a “água” está me matando!” E nos clubes de “strippers”?... Sem a bebida, não existiria nem clubes, nem “strippers”.

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Agmar Raimundo
Enviado por Agmar Raimundo em 05/05/2019
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