Welcome to my jungle, baby.

De onde surgem aqueles textos que “fazem blues na cabeça” como Dylan disse ao ler Mexico City Blues, de Kerouac? De onde surgiram as inspirações que inspiraram quem me inspira? As referências... ah, como eu amo pegá-las logo de cara, me sinto esperta. As músicas que me dilaceram também fazem isso com quem as escreveu? Será que acontece o que eu sinto quando eles cantam? A adrenalina... ah, o fogo ácido que vai subindo até a garganta e faz o corpo inteiro pulsar numa disritmia desconfortante. Eu sei que fui uma lenda do rock, uma estrela da MPB, uma dos “ poetas malditos”, fui presa na ditadura e talvez uma beatnik dos anos 50. Ah, eu fui, sim. Eu fui tudo que queria ser e hoje me restam os resquícios de outras vidas. Não sou Kardecista, mas é até plausível, a meu ver, a ideia de reencarnação. Dizem que quem é fascinado por algo era também em vidas passadas ou está “pagando” uma dívida. Será, então, que eu fiz mau uso de minha voz e estou pagando nessa vida sem saber cantar? Eu já me apresentei em boates, clubes de jazz, deitada num piano e em grandes estádios de futebol. Eu sinto. E acredito no que sinto. Deixe-me sonhar!

Hoje minha voz está dentro de minha mente, eu imito os artistas nela, eu canto no meu interior e sinto minha garganta vibrar e ficar cansada mesmo sem reproduzir som algum. Minha voz está em minhas mãos que escrevem. Minha voz é exteriorizada pelos rastros de lápis no caderno velho que ponho meu cantar.

De onde vem a vontade de fazer diferente, de influenciar toda uma geração? Como se explica vender milhões e milhões de cópias de alguma coisa e ser profundamente estudado décadas e décadas após sua morte? Muitos são ditos gênios e “pais” de tal coisa assim que morrem. Não são reconhecidos por seus companheiros de época, são apedrejados e seus livros são queimados em praça pública, daí caem no alcoolismo e outras drogas pelo contexto ou por pretexto. Eu também já tive vontade de experimentar todas as drogas existentes como Allen Ginsberg disse que fez ao escrever suas poesias. Sabe, morrer de cirrose e câncer no fígado relativamente jovem deixando uma extensa obra-prima com rastros de genialidade que influenciará todo o Ocidente é, simultaneamente, patético e altamente tentador e lindo, muito lindo. Me sinto tentada e completamente excitada quando se trata de fazer parte de uma revolução, nem que eu morra com uma bala no peito, afogada em minha hipocrisia, no pós-desbunde com uma overdose ou pela necessidade tola e totalmente compreensível de beber incansavelmente, inalar e cheirar e injetar substâncias, ter umas duas ou três amizades eróticas com parceiros e parceiras literárias porque é cool e, mais que isso, é natural que seja assim porque sua sexualidade é reprimida, óbvio, senão não estaria aí e aqui sendo um gênio incompreendido, irreverente e avant-garde. E é disso que eu gosto e faço parte em alguma extensão cerebral ou num universo paralelo ou até num plano espiritual que seja.

O bloqueio de pensamento existe pra depois se destrancar e soltar cachorros raivosos e famintos pra cima de você. Depois de ser mordido e quase devorado vivo, você abre os olhos trêmulos e vê que esses cachorros são você. Daí percebe que escreveu até o que não sabia que fazia parte de você, de seu HD interno. Escreveu muito e escreve descarregando todas as ideias que pairam e não te deixam dormir, porque sua cabeça é um caos cheio de links, vírus e propagandas que vão chegando e se sobrepondo, sobrepondo e sobrepondo sobre as outras e você, coitado, não pode fazer nada porque não tem aquele “X” vermelho pra fechar as abas.

Minha mente é um caos, que mente e assusta. Demente e astuta. Não quero atirar nas ideias que pairam, não me autocensuro. Deixo que elas voem e me levem junto pra Pasárgada que quiserem.