CRÔNICA PARA SE VIVER A VIDA


          Da solidão de minha janela observo ao cair da noite à minha frente a luz de um poste acessa, congregando centenas de indivíduos cupins com suas asas em voos desajeitados e circulantes. A efemeridade de suas pequenas vidas parece não ter importância diante daquele espetáculo de luz brilhante. Fico absorto enquanto sorvo um gole de cerveja em minha taça especial, um souvenir recolhido numa ilha parasidíaca do Mediterrâneo quando estive lá à trabalho. Nesta abstração entre um gole e outro, imagino sobre a própria vida, minha e de meus queridos descendentes e amigos! Ocorre-me a pergunta que não quer calar: o que estamos fazemos de nossas vidas? Estudos, trabalhos, empregos, amores, relacionamentos, buscas incessantes por alguma coisa?
          Não encontro respostas que me satisfaçam! Volto a olhar para aqueles pequenos insetos e reprocuro uma explicação que me conduza por um caminho de compreensão. Mas um vazio se aproxima de mim. Não encontro sentido e então mergulho dentro do meu eu. Novos questionamentos surgem, procuro Aristóteles, só sei que nada sei. Busco Rui Barbosa e mesmo que eu venha viver 100 anos e ler todos os livros que puder, só aumentarei a minha certeza de que necessito de mais 100 anos para perceber que nada sei!
          De volta às voltas dos cupins efêmeros, olhando aquela luz central, de repente acende-se algo diferente. O tempo! Sim, o tempo, como não percebi isso antes? A resposta está em reconhecer também nossa efemeridade tal qual aos cupins voadores, mas com a diferença da valorização desta, porque o tempo voa, sem asas! O que fazemos da nossa existência está atrelado ao tempo vivido em...O que realizamos, o que deixamos de realizar é o paradigma individual de cada indivíduo imbuído de sua missão de viver. Cada instante, cada momento, tudo é único, e isso é a diferença entre os voos circulares e os círculos que construímos com nossas relações! Somos nosso próprio lume e a intensidade de nosso brilho depende exclusivamente de nós! Sejamos senhores do tempo que nos foi dado! Sejamos felizes enquanto pudermos, o resto é eternidade!
Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 26/04/2019
Reeditado em 23/06/2020
Código do texto: T6633140
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