Mariano II
Naquela época — nenhum sábado era qualquer — as cinco
horas da tarde a roda etílica entraria em campo contra os
imortais. Como sempre acontecia, Paulinho, o dono da
chapelaria iniciava o jogo: de óculos, ataduras em todo corpo,
examinava a bola com acuidade, uma nike antiética, poderosa
e macia. Mariano, gentleman, destro, estatura mediana, com
sua voz pausada, jogava de ala, tinha drible seco e fino,
conduzia a bola com rapidez, competitivo, esmerava na
perfeição do passe, bem como fazia na pediatria.
Naquela tarde, o sol estava pálido, as nuvens generosas, o ar
ventilava mansamente. Fora da quadra sintética, acontecia —
raramente — mas acontecia. Sua mulher estava lá, com seu
filho, assistindo o jogo enquanto pajeava o filho. Estava três a
dois para os imortais quando uma falta calorosa sucedeu. Um
grito aqui, um palavrão ali, outro palavão acolá, uma pausa
instantânea foi o suficiente para que uma voz macia (fora da
quadra) soasse: - Querido, isto não se fala! Mariano parou o
jogo, colocou a bola presa ao pé direito, olhou-a, ocultando
sua própria alma, respondeu; mas desta vez, voz contida,
celada e firme: - Querida! Aqui é outra pessoa!