Memórias de ruínas

Quase todos os dias, percorro o mesmo trajeto até o trabalho. Quando paro pra pensar no que faço, vejo como a rotina nos domina e quase como que em piloto automático, sigo pelo mesmo caminho. Todos os dias olho as mesmas ruas, casas, pessoas... olho, mas não enxergo.

Certo dia deparei-me com as ruínas de um prédio e como aquela cena tão cotidiana, me fez esquecer de todas as lembranças do que foi aquele lugar. Suas lembranças se avivaram dentro de mim e trouxeram à tona memórias há muito adormecidas.

O prédio a que me refiro foi por muitos anos uma escola de ensino infantil (não sei precisar quantos), onde tenho certeza absoluta que trouxe a inúmeras crianças, o primeiro contato com as letras e números, assim como eu.

Foi ali que aprendi a contar, a escrever meu nome, ler histórias e dei os primeiros passos para escrever a minha própria história. Ali também fiz as primeiras amizades, onde muitos deles levei por anos a fio na trajetória escolar e para a vida. Ali brincamos muito, no gramado existente atrás da escola, onde rolávamos no barranco como crianças felizes e que aproveitaram e muito sua infância. Ali pudemos sentir o amor e dedicação de uma professora, que pacientemente nos ensinou, mais do que os conteúdos; nos ensinou a viver, a conviver e a respeitar.

A nostalgia é grande. As memórias são muitas. E a tristeza de ver aquelas ruínas também. Mas foi hoje, somente hoje que me dei conta do que os anos fizeram com aquele lugar onde moram memórias tão doces. Um local que antes escola, depois abrigo a pessoas sem lar e hoje ruínas.

Muitas vezes a rotina nos cega. Acredito que como eu, muitas pessoas nem se dão conta do que foi feito com aquele lugar. Acostumam-se a olhar a falta de vida das ruínas de um prédio que fora no passado o oposto disso.

Mas ele vive dentro das memórias de quem ali saboreou bons momentos; na esperança de que um dia renasça das ruínas e volte a proporcionar momentos felizes a outras crianças.