Mariano

O dia brilhava azul e calor, o Rio é assim mesmo, a beleza acelera os nervos e o calor amedronta a alma, ambos são de natureza geológica, a geografia da cidade imprime nos corpos uma fenda sem idade e apaixonada. Ele é meu amigo, nascido no norte de Minas, benzido pelo Chico e pelo futebol, desgraça de coração torce preto e branco, sem conhecer ser campeão incorporou a dor como sinônimo de amizade, mas depois de pouco tempo de vida veio tratar de viver na capital, casou-se com a anedota de sua promessa, amou mais do queria e esqueceu de amar sozinho, fez da coragem sua mulher e da medicina seu algoz, entre um e outro a paixão pelo cinema, pela música, pelas rodas etílicas da amizade. Na literatura cultivou seu galinheiro, assim tornou-se médico, niilista, amante e humano. Estava de férias no Rio, sua mulher lá guardava sua origem por esse motivo fez dali o quintal praiano. Numa manhã aparecida visitava numa banca de revista os velhos livros encroados em pilhas, como era de costume seu, tamanduá da cultura, estava lá procurando novas espécies ainda não criadas no seu escritório. Estatura mediana e branda, serenidade jocosa e maliciosa, humor refinado, enxergava na delicadeza a razão de toda mulher, e a doçura o enlaçava fazendo-o perder a voz, amizade e casamento as armas que permitia usar para viver em sociedade. Estava escolhendo no meio de livros e discos sonhos de um cinema novo. Uma palavra nome saiu de sua boca, uma palavra conhecida para os cinéfilos, e a bem dizer uma palavra curta, durou pouco no tempo, apesar dos muitos frutos deixados. Glauber viveu quando pequeno em fazenda, e viu bem pequeno a tirania humana, escravos e patrões, injustiça e beleza não caminham separadamente. O pobre ainda pode ser bonito e a negra quando é azeite do desejo estala na panela a caminhada de todo cristão. Mariano começou a dizer dele por algum motivo exposto de uma banca de jornal, e como na vida existe certa simetria ilógica entre o que o vivemos e o que viveremos, a irmã da palavra estava ao seu lado, ao seu lado, numa capital, ao lado da capital está a televisão e de frente a toda televisão inumeráveis idiotas.

Toya Libânio
Enviado por Toya Libânio em 13/01/2019
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