Tristezas Da Carne

Tristezas Da Carne

Nos lugares em que estive empregado, sempre trabalhei cercado pelo sexo feminino. Razão pela qual sempre tive com as mulheres uma excelente relação.

Uma delas, certa feita, aproximou-se de mim confessando-se triste.

Como eu lhe indagasse a causa da sua tristeza, ela, com a voz embargada, disse-me que estava triste porque havia engordado três quilos.

Diante de tal afirmação, meu coração não pôde evitar que dele se apoderasse um profundo sentimento de compaixão por aquela doce criatura a quem uma pequena alteração na aparência deveras entristecia.

Lembrei-me de uma outra conhecida minha que, em uma conversa informal, confessou-me que tinha muito medo de envelhecer e que havia transmitido tal medo às suas duas filhas, à altura, com oito e quatro anos de idade.

Falou-me a mesma conhecida que suas filhas sentiam-se desconfortáveis quando pessoas idosas se aproximavam delas, porque o fato de se encontrarem “envelhecidas” significava, para elas, que essas pessoas estavam perto da morte.

Recordo-me de que, naquele momento, também me compadeci de minha interlocutora.

Ao atar estas duas situações pelo fio de um mesmo raciocínio, pus-me a pensar no quão complexa é a condição humana e no quão frágeis podem ser aqueles que a ostentam quando se tornam prisioneiros da aparência.

Entendo que a aparência, isto é, o corpo, é o vazo que se destina a guardar a essência, que é a alma, o íntimo, o ser, de cada criatura, sendo, portanto, de suma importância cuidar-se dela, a fim de que possa cumprir com qualidade a sua função.

Considero, porém, um completo absurdo que, em nome de tal cuidado, pessoas dêem prioridade à aparência, descuidando totalmente da essência que em seu interior se guarda.

A ninguém cabe entristecer-se por conta de qualquer alteração na aparência, uma vez que o destino do corpo é desgastar-se diariamente, até ser abrigado pela terra e transformado no húmus que a alimentará.

O que deve entristecer alguém são os males da essência, a saber: desvios de caráter, preconceitos, condutas viciosas, perversões, inclinações à prática do mal, orgulho, egoísmo, futilidade, inveja, entre outros.

Obesidade não é castigo.

Idade não é defeito.

Não merece ser excluído da sociedade quem se encontra fora dos padrões de beleza celebrados na atualidade. Porque ser belo e estar em dia com a moda não é, nunca foi, nem jamais será garantia de felicidade.

Hebane Lucácius