Índios - A história que se repete.

Éramos pacíficos. Nos chamavam de bárbaros porque não usávamos roupas como as deles, porque nossa cultura era diferente da deles.

Queriam nos subjugar, nos deixar fracos e doentes, a míngua, para que fossemos morrendo aos poucos em silêncio, longe dos olhos da justiça. O Grande Pai queria a paz e nos mandava generais, especialistas em guerra, ávidos por aplicarem suas estratégias e disparar seus canhões. Mas éramos pacíficos. Acreditávamos na palavra do homem branco. Acreditávamos que podíamos conviver em harmonia. Haviam búfalos o suficiente para todos. E haviam os campos de pessegueiros que eles destruíram para nos ver subjugados.

Nos faziam assinar tratados de paz que não entendíamos. Uma derrota lenta que nos era imposta. Queriam que reagíssemos, apesar dos absurdos que nos impunham, mas não reagimos. Queriam comprovar que éramos bárbaros e que não cumpriríamos nossas promessas. Mas nós cumprimos. Seu exército chegou em nossa aldeia e nossas mulheres e crianças foram abrigar-se debaixo da bandeira de sua pátria. Nosso chefe colocou no peito a estrela que o Grande Pai havia lhe dado e com sua bandeira branca foi confiante avisar aos soldados que eram uma tribo pacífica. E vimos nosso chefe sendo morto a tiros antes de chegar a falar. E teriam matado a todos da aldeia se alguns não tivessem fugido. Espetaram com suas baionetas as barrigas de mulheres grávidas, e atiraram em crianças, e as mulheres e crianças também não reagiram. Roubaram nossos cavalos para que não pudéssemos caçar e queimaram nossas peles e comida para que morrêssemos de fome e frio na Lua do Frio Forte. A barbárie continuou, pois seus soldados se enfeitaram das partes de nossas mulheres e crianças, como que estivessem sedentos por mais sangue do que podíamos oferecer. Nos impuseram os acampamentos vigiados, onde não havia caça e dependíamos de suas rações escassas. Na Lua em que a Neve Cai nas Tendas precisamos cavar buracos no chão para nos aquecermos. Os idosos morriam de escorbuto e as crianças morriam de disenteria. As águas da reserva eram salobras e não serviam para ser bebidas, mas foi o que os Chefes Estrelados nos reservaram. Misturaram povos de todas as tribos, como se fossemos apenas gado. Um gado maldito criado para emagrecer e morrer.

Quantos tratados assinamos abrindo mão de nossas terras natais onde enterramos nossos antepassados mais queridos, onde caçávamos os búfalos com respeito, apenas o necessário. Onde bebíamos a água sem torna-la turva, barrenta, negra e fétida. Onde respeitávamos a serpente, o lagarto e o sapo em suas tarefas de equilibrar para que nada se procriasse em excesso e para que nada faltasse. Exterminavam nossas aldeias na Lua da Estação que Muda para que nosso povo e nossos cavalos ficassem magros e sofressem até a Lua em que Aparecia a Grama Vermelha.

Baseado no Livro "Enterrem Meu coração na Curva de Um Rio" Dee Brown