ABRINDO A JANELA DA ALMA

Houve um tempo em que a janela da minh'alma se abria apenas para o prazer das coisas mais simples da existência. Naquela época, vivia embalado pela leveza de uma ingenuidade que me fazia sonhar quando estava em certos lugares ou ambientes, como por exemplo, numa biblioteca, num parque, numa estrada envolta por belas paisagens, numa cidade pequena ou então diante da natureza adornada de esplendores, cores e belezas naturais.

Houve um tempo em que vivia apenas para meditar, para saborear o perfume das poesias e para pensar o pensamento dos pensadores mais geniais. Numa época de muitas dificuldades, contratempos e insatisfações, essas atividades me davam um grande sentido à minha vida. Nunca deixava de abrir a janela da minh'alma para a felicidade das longas meditações, nostalgias e devaneios, ainda que o mundo ao meu redor estivesse conturbado e cheio de espinhos.

Houve um tempo em que eu só queria ser livre; andava pelos céus de minhas próprias fantasias para vislumbrar uma clareira de serenidade no meu ser. As janelas da minh'alma se abriam também para a imensidão dos mares, florestas e dos céus, pois nesses lugares sentia que podia ser mais livre para contemplar e apreciar o sabor da solidão. Almejava ficar longe das rotinas do dia a dia porque só queria conhecer lugares novos e degustar o verdadeiro valor da vida ao lado de pessoas que quisessem partilhar os mesmos anseios, ideias e ideais. Essa ingenuidade e simplicidade sempre me propiciavam grande exultação; era, para ser sincero, uma experiência que me ajudava a não desistir de ser feliz e de ser um perfeito sonhador.

Hoje, permeado de novas vivências e inesperadas situações, percebo, não sem angústias, que, embora tenha preservado muitas atitudes, quase tudo mudou...nesses dias em que as exigências se tornaram mais tenazes, continuo sonhando e devaneando como um sonhador perseverante, mas percebo que as responsabilidades e a complexidade dos desafios que enfrento; a consciência profunda da finitude e a preocupação com as pessoas que amo, estão ainda mais fortes na minha vida. E, assim, aprendi que não posso esquecer dos meus problemas; preciso, pois, enfrentar a crueza da realidade que rodeia o meu cotidiano e, ao mesmo tempo, não deixar de vivenciar a beleza dos meus sonhos, fantasias, memórias e devaneios (sem permitir que evanesça essa pequena parte do meu ser).

Após as vivências das inexoráveis perdas daquelas pessoas que fizeram parte da minha história, passei a valorizar ainda mais aqueles que estão próximos de mim, ou seja, aquelas pessoas sobre as quais tenho muito o que partilhar de bom e também muito o que aprender de significativo.

Hoje percebo que, apesar de todas as lutas de que tenho travado, aprendi que posso ser feliz por ter mais responsabilidade do que antes. E que posso ser feliz por saber que sei demonstrar, com mais sensibilidade e desenvoltura, todo o meu amor por aqueles que vivem ao meu lado. Aprendi que não preciso deixar de sonhar como sonhava antes e tampouco deixar de levar uma vida de simplicidade, pureza e beleza tal como fazia outrora. Enfim, a janela da minh'alma ainda se abre para tudo que há mais elevado e verdadeiro, imprescindível para todo aquele que se alimenta de poesia e aspirações no coração.

Na verdade, as experiências da vida me ensinaram, independente de qual situação me encontre, a não esquecer de quem eu sou e das minhas origens, ou seja, me ensinaram a não vender os meus valores mais profundos. Hoje, a janela da minh'alma também está aberta à presença do novo, ou melhor, está aberta à presença de novas maneiras de ser e de viver que se juntam aos velhos hábitos permeados de antigas aspirações (elementos que até hoje não se esvaíram da minha existência), de modo que tenho aprendido a dar boas-vindas às mudanças repentinas e a enfrentar com bravura as novas circunstâncias, as quais me motivam a refletir mais intensamente sobre os sucessivos rumos que tomaram a minha vida.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 06/08/2018
Reeditado em 08/08/2018
Código do texto: T6411065
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