Sem o grito da alma a fotografia não é arte

Neste momento fotógrafos no mundo inteiro registram o nosso dia a dia, os nossos hábitos, nossos vícios e virtudes. Registram nascimentos, casamentos, batizados, outros ritos e até a morte. Futuros fotógrafos estão estudando nas escolas e universidades, elaborando novas teorias; ajudando engenheiros a criarem facilidades, a elaborar novos equipamentos ou aperfeiçoando os atuais. Outros ainda estão de corpo e lente nos laboratórios científicos elaborando novos materiais.

Todo esse esforço para registrar. Fotógrafo é antes de tudo um grande registrador.

Daqui a cem anos nossos descendentes poderão conhecer nossos costumes analisando os registros fotográficos de hoje. Como vestíamos, o que comíamos, como eram as nossas paisagens – arborizadas ou devastadas; se determinado rio estava poluído ou não. As fotos dos pássaros e de outros animais irão dizer se fomos conservadores ou destruidores.

Sem um viés denuncista naturalmente este assunto virá à mesa de discussões e será pautado pelos estudiosos e governantes.

As fotos tiradas hoje nortearão as ações dos novos inquilinos da terra. Se eles não souberem como viveram seus antepassados ficará difícil saber como agir naquele presente. A partir da fotografia de hoje definirão os rumos da humanidade.

O fotógrafo, ainda que não se dê conta, presta relevante papel social e não tem como fugir dele. Se clicar está mostrando o que a alma da sociedade está vendo. Naturalmente, o fotógrafo é impulsionado a fazer este trabalho, a registrar. É um registrador.

Registrar com arte, eis a grande diferença. Este é o pulo do gato. O fotógrafo não é um documentarista frio, distante e desapaixonado. Se entra mecanicismo, vira apenas um registro. Se é documento, dura apenas até a próxima interpretação. Quando o fotógrafo lança sua alma na fotografia aí sim é arte. Se entra alma, vira arte. Se é arte, vira eterno.

Sem o grito da alma a fotografia não é arte.