MENSAGEM A UM POLÍTICO PRESO

Escrever lhe fará bem para que a História possa lhe avaliar pelas bem ou mal traçadas linhas. A redução de pena por folha sem erro de ortografia poderá equivaler a uma interpretação por escrito de livro lido, a ser naturalmente negociada. No Brasil não tem a pena de morte, não existe a prática do haraquiri e nem é permitido ser deixada no cárcere pistola com uma única bala na agulha. Portanto, haja sofrência, mas aprender ortografia dói só no começo...Depois que acostuma até toma gosto e ajuda na gramática como um todo. Vai aprender que concordância é coisa bonita...

Vai te ajudar a escrever as sinopses dos livros lidos, pois que devem ser naturalmente escritas de próprio punho para que prove que leu e entendeu, e assim consiga redução da pena. Surgiu-me um trocadilho para descontrair: com a pena a redução da pena vai estar à mão...

Quem lê mais de 25 livros em 57 dias, não resta dúvida que é um gênio e admite-se que tenha uma capacidade impar de processar a leitura dinâmica, aquela que se lê na diagonal... Quem lê dessa forma, não encontrá dificuldade para escrever as súmulas com as interpretações dessas leituras e, o que tem peso maior, escrever os próprios livros, registrar seus pensamentos e ideias para a posteridade...

Para que sirva de estímulo, um exemplo clássico de livro escrito na prisão é o de Miguel de Cervantes que escreveu um dos maiores livros do gênero, praticamente um hino à liberdade e à demência, que é o conhecido Dom Quixote de La Mancha. Por ironia e coincidência do destino ele foi preso por apropriação do dinheiro público, mas de dentro da cela apropriou-se das letras e redimiu-se perante a humanidade legando-nos um dos maiores títulos da literatura internacional. Foi punido pela lei dos homens, mas ele próprio fabricou sua liberdade entre as quatro paredes da torre em que o aprisionaram.

Outros autores levados ao isolamento também o utilizaram para deixarem seu legado de próprio punho, sendo os mais conhecidos talvez Martin Luther King e Nelson Mandela. Hitler também escreveu na prisão. Quem sabe, agora, você não passe a ser mais um nesse seleto time.

Outra coisa, você tem uma grande influência ainda aí dentro e aqui fora. Mas isso vai acabar, com o tempo você vai, aos poucos, sendo esquecido. Então, arregace as mangas o quanto antes, não adianta pedir para outros lhe escreverem as súmulas dos livros lidos e lhe passar quando das visitas, nem ainda aproveitar o celular (sabe como é!) para as receber como mensagem, fica fácil só copiar estas ajudas. Tem que ser de sua própria lavra.

Talvez não lhe sirva de consolo, mas não é ironia e nem admoestação, é um mero conselho para que faça algo útil nestes anos que lhe restam de "mea culpa": relembre e redima-se de suas loucuras, colocando-as para fora aí dentro, libertando-se pela paz de espírito e consciência. São meus sinceros votos. Premie-se a si mesmo!

Armand de Saint Igarapery - textos no Face e no Recanto das Letras