INFLUÊNCIAS

Quando iniciei a escrever, queria ser surrealista.

Pintar em cores aleatórias e ousadas meus versos e prosas.

A fina e minuciosa construção de Cortázar me encantava. Uma prosa em que se ia penetrando, pouco a pouco, num universo onírico de beleza ou terror.

Outro espécime, este nacional, também dividia minhas atenções. Era o mineiro Roberto Drummond que mixava o cotidiano junto com o delírio e a denúncia política.

Nunca vou esquecer a passagem, de um de seus livros, em que o General-Presidente conversa com seu cavalo. Este está deitado na cama e lhe fala trechos do livro "O Príncipe", de Maquiavel. Nem em minhas mais alucinadas viagens imaginaria isso.

Mas, o tempo foi passando e eu ficando cada vez mais preso ao solo do cotidiano. Ao território do real.

Meus voos estavam circunscritos. Eram de curto percurso. Pois as asas que a natureza me dera estavam meio podadas.

Tornei-me sul-realista, o que este minuano gelado me permitiu.

O possível para este tempo de tons mórbidos e de criaturas idem.

Porém, tenho esperanças. Quem sabe um sol intenso e semeador nos aqueça amanhã.

Por ora, apenas o frio.

Ricardo Mainieri
Enviado por Ricardo Mainieri em 14/06/2018
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