Eu sinto dor na cicatriz quando o tempo muda

Eu torci o joelho semana passada e fui parar num pronto socorro. O médico que me atendeu, ao perceber pela cicatriz que já tinha uma cirurgia no histórico, olhou bem nos meus olhos (e me apontou o dedo, juro) e disse: “A SUA INSEGURANÇA NÃO PODE SER MAIOR QUE SUA DOR”. Bem, a desventura rendeu-me quatro dias de repouso, três injeções de voltarem e alguns comprimidos. Mas ahh ... a fala daquele médico me rendeu muito mais. Talvez se ele soubesse quão difícil é ser profunda nesse mundo, se ele soubesse que aquelas palavras me deixariam pensativa bem além do meu joelho machucado. A dor é real, pois você se machucou, mas a insegurança e o medo que você tem por causa de experiências do passado, são um destempero da mente e vai servir apenas para prolongar e aumentar a sua dor.

No dia que machuquei, a greve dos caminhoneiros estava só começando, e eu nem imaginava que o “Ensaio sobre a cegueira” do Saramago ia perpetuar na minha memória como que do nada. E nem que o Brasil (e alguns brasileiros) ia expor as vísceras tão abertamente, que Fake News teriam mais visibilidade que a verdade (mentira! Isso eu sabia) ou mesmo que surgiriam tantos cientistas políticos de facebook que eu, como geógrafa, até sentiria falta da teoria da terra plana. Mas tentando lá no fundo ser positiva, é bom que certos debates venham à tona.

Falando em geografia, dia 29 foi dia do geógrafo. E eu sempre tenho reações felizes e tristes nesse dia. Lembrei que a disciplina de Jornalismo Digital da minha pós-graduação em andamento já começou e nem passei meus olhos por lá ainda. A bem da verdade, ficar em casa esses dias de repouso me fez constatar uma coisa: a cicatriz que não se vê é a mais pesada de carregar. A SUA INSEGURANÇA NÃO PODE SER MAIOR QUE SUA DOR, e aqui eu já nem sei se estou falando do Brasil, da geografia, do jornalismo ou ... desse medo de amar.

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Textos de quinta para fugir da responsabilidade.

Não é promessa. É desejo. :)