DESABAFO

Tem gente que debocha do lirismo de outros versos.

Que espezinha o talento alheio.

Como se de seu desprezo se desprendesse uma seiva que o nutre.

Sejam eles de obscuros poetas apaixonados. Ou de poetas em consagração.

Como se deixar as emoções conduzirem o processo criativo fosse menor.

Como se conseguir comunicar as coisas de si e do mundo em palavras acessíveis fosse desprezível.

Que desejam estes senhores?

Esperam que outros senhores de grossas lentes e cabelos engraxados se debrucem sobre seus escritos. Decifrem seus signos iniciáticos.

Querem que seus livros tornem-se alimento para os ácaros em vetustas bibliotecas?

Cansei deste povo.

Prefiro quem queira a ração diária de lirismo. E que se alimente, se lambuze.

A poesia, assim como a vida, não é asséptica. Nem epiderme morta sob os cuidados de um bisturí.

Ela é viva. E pulsa, e jorra e mancha a tela.

Sem pudor.

Ricardo Mainieri
Enviado por Ricardo Mainieri em 13/05/2018
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