DESABAFO
Tem gente que debocha do lirismo de outros versos.
Que espezinha o talento alheio.
Como se de seu desprezo se desprendesse uma seiva que o nutre.
Sejam eles de obscuros poetas apaixonados. Ou de poetas em consagração.
Como se deixar as emoções conduzirem o processo criativo fosse menor.
Como se conseguir comunicar as coisas de si e do mundo em palavras acessíveis fosse desprezível.
Que desejam estes senhores?
Esperam que outros senhores de grossas lentes e cabelos engraxados se debrucem sobre seus escritos. Decifrem seus signos iniciáticos.
Querem que seus livros tornem-se alimento para os ácaros em vetustas bibliotecas?
Cansei deste povo.
Prefiro quem queira a ração diária de lirismo. E que se alimente, se lambuze.
A poesia, assim como a vida, não é asséptica. Nem epiderme morta sob os cuidados de um bisturí.
Ela é viva. E pulsa, e jorra e mancha a tela.
Sem pudor.