Ao meu avô...

Já faz anos que por ti não choro, mas hoje a tristeza bateu-me violentamente à porta, trazendo consigo a dor e a saudade. As lágrimas que pelo rosto me escorrem são como navalhas afiadíssimas, rasgando-me desde o canto dos olhos até o mais profundo do peito, deixando aberta a ferida de tua falta.

Ah vô! Quantas coisas gostaria de contar-te, quantas coisas gostaria que visses. Como quero reclinar a cabeça em teu peito, como quero pegar em tuas mãos feridas das roças e dos campos. Como quero entrar em tua casa, que já não mais existe, sentar-me à tua mesa, comer do teu feijão e beber do teu café. Ah vô, meu melhor amigo! Como gostaria que me visses dirigindo, que visses meu bigode, que continua menor que o teu.

Ah vô... Como dói-me não poder mais pedir a tua bênção. Como dói-me não ouvir mais os teus casos, tuas brincadeiras e tua risada. Como dói-me não ouvir-te mais chamando-me “nêgo”. Ah vô... Como dói.