Cadê a Jéssica?

Hoje minha família foi vítima do feminicídio, que é o crime praticado contra a mulher pelo homem que deveria protege-la.

A representante da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman explica que “feminicídios são assassinatos cruéis e marcados por impossibilidade de defesa da vítima, torturas, mutilações e degradações do corpo e da memória. E, na maioria das vezes, não se encerram com o assassinato. Mantém-se pela impunidade e pela dificuldade do poder público em garantir a justiça às vítimas e a punição aos agressores”.

Jéssica tinha 25 anos e um futuro promissor no Corpo de Bombeiros do Distrito Federal. Mas cinco tiros tiraram-lhe a vida, o futuro e deixaram um vazio nas nossas almas, e enorme sensação de impotência diante de tamanha covardia e brutalidade.

As estatísticas mostram que treze mulheres são assassinadas por dia no Brasil; somos o quinto país que mais mata suas mulheres. “...Do total de feminicídios registrados em 2013, 33,2% dos homicidas eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas.”

Há pouco tempo estive numa palestra-show da poeta e atriz Elisa Lucinda. Questionada sobre a violência contra a mulher ela foi enfática e disse mais ou menos assim:

- Os homens que matam nossas filhas e sobrinhas são aqueles que hoje dormem na cama dos pais; são aqueles que, sob a proteção da mãe, mandam o pai da cama para o sofá, e fica dormindo com a mãe. São esses mimados que nunca ouviram ‘não’ de uma mulher que, ao primeiro ‘não’ da namorada, matam-na.

A nossa sociedade precisa educar nossos homens para conviver com suas mulheres. Precisamos de educação para mostrar-lhes que o ‘não’ é parte do processo de convivência e pode ser muito bem aproveitado no amadurecimento humano.

Quando mata sua companheira, o assassino fere de morte a família dela, a família dele e todas as famílias que convivem com eles. Portanto, o estrago é muito grande para ser negligenciado. Não basta aumentar a pena é preciso fazer o covarde ter medo da pena. A certeza da punição é o medo do covarde.

No caso de Jéssica, o assassino, que é policial, disse que não seria preso porque a farda o protegeria.

Sou pai de três meninas e avô de duas. Sinto na alma a dor do pai da Jéssica, que é um homem muito amado pela nossa família. Agora ecoa pelos ares a frase de um pai desesperado e impotente: “Onde está minha filha? Cadê a Jéssica?”