Enquanto isso a gente escreve
O sistema caiu. E isso gerou uma onda de desassossegos que, juro, sou incapaz de lhe dar um ponto de início, quem dirá um final, é que ele não é humano, não tem prazo de validade indefinido como as pessoas. Ele não sente amor, tampouco despeito. Ele não sabe como é a dor de um fim, a insegurança de se estar certo ou errado na sua decisão de ir e deixar ir. Ele, o sistema, não sabe sentir uma saudade, uma frustração e sequer uma culpa por algo que deu errado ou alguém que sumiu.
Ele não sente como é desabar em chamas e menos ainda morar em lugar nenhum e em ninguém. Nem mesmo sente o artigo 5 da constituição federal - não sei, mas é algo que tem a ver com o bem de todos sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e essas coisas todas aí que o sistema não sente. O sistema está fora do ar, mas um dia ele volta, a gente pensa, humilde, enquanto passa um café. Um dia ele volta.
Enquanto isso, você foge dos grupos de WhatsApp. Faz exercício. Lê o livro de um escritor frustrado, assiste um filme repleto de significado no Netflix e quer dividir com alguém. Você precisa contar que aquele filme mexeu com alguma coisa dentro de você, com a sua lucidez. Você se pergunta se o sistema funciona. Como está o seu sistema nervoso, sua libido e sua sensibilidade. Repara as pontas duplas do cabelo, lê um texto do Rubem Braga em voz alta e acha que a sua voz rouca pode ser mesmo sexy. Talvez chore um pouco e se lembre do filme. Você ainda não conseguiu falar sobre ele com ninguém e logo a euforia passa. E os momentos todos.
Contra o sistema, os suicídios, os que ferem o artigo 5 e os fins indesejados, só a arte. A arte e o amor.
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Textos de quinta para fugir da responsabilidade.
Não é promessa. É desejo. :)