A beleza de estar só

Fazia três dias que eu estava naquela vila, um lugar remoto, cercado pelo mar e pelas montanhas. Sentei-me na areia da praia, observei a lua cheia no céu, refletindo no mar, o barulho das onda fez me lembrar algo que há muito desconhecia: Silêncio. Silêncio interior. De fato, silêncio interior é tudo que uma pessoa precisa para entender e decifrar as muitas vozes que ecoam dentro dela, querendo tantas coisas, dando tantas coordenadas, indicando tantos caminhos, saídas de labirintos emocionais que vão sendo construídos ao longo do tempo, da vida cotidiana. Por isso decidi estar só, durante este fim de semana, em um lugar desconhecido aos meus olhos, com pessoas estranhas a meu coração. Faço na areia a imitação de uma runa que se desenrola em um coração. Amor. É esta pois, a resposta para todas as minhas perguntas, todas as minhas dúvidas, todas as minhas dores. Não é apenas meu trabalho que me faz infeliz, ou a minha universidade que me traz desconforto e falta de propósito, tampouco o lugar que eu estou que me faz querer fugir é a sensação de nunca ter sido amada que rouba a minha paz, desequilibrando todo o resto. Logo eu, que imaginava ter tanto amor dentro de mim, nunca o ofertei a mim mesmo e sempre esperei recebê-lo de desconhecedores de seu significado. As ondas quebram ao longe, alguns barcos estão á deriva, e sinto o sal na minha boca e a água na minha face; molho meus pés e seco meu rosto. Então penso que o que me trouxe aqui, foi o ódio, a decepção, deszelo, angústia, medo, incapacidade de me desligar da realidade latente e ver as coisas como são, e enquanto estou ali, sentindo a água do mar molhando meus pés, vejo que estou ali por algo mais, amor, perdão, auto perdão, valentia, consciência do momento presente, evolução. Congelo o tempo para entendê-lo, não como dias que passam ou que chegarão, mas, como o fenômeno em que o que foi, o que é e o que será se fundem em um único momento, em que vemos o nosso pior e ainda assim nos tornamos melhores, em que algumas feridas são cicatrizadas para sempre, e outras recebem um bálsamo curativo que a longo prazo fará efeito em que o perdão é recebido e concedido, em que nos vemos como somos e não como gostaríamos que fôssemos, o momento em que não preciso dissimular um sorriso e fingir que está tudo bem, por que eu estou só; e neste momento é o que mais necessito. O vento me faz um carinho na face enquanto sopra meus cabelos, seu toque suave é a forma delicada de Deus dizer que tudo ficará bem. Fito o horizonte, busco energias positivas ao meu redor. E percebo que há beleza na solidão, não aquela que nos é imposta, mas, a que é buscada por que é necessário. Enquanto a onda vem e desfaz o coração desenhado na areia, eu posso sentir, que dentro de mim, o meu coração está um pouco mais limpo e renovado, ofertando me amor. caminho na areia em direção às pessoas, meus passos lentos e delicados me levam de volta para mim mesma.

Tatiane Pereira dos Santos
Enviado por Tatiane Pereira dos Santos em 01/05/2018
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