Amigo de quem?

Amigo de quem?

Conhecera-o desde pequeno. Mesmo antes de vê-lo nascer, sempre estivera por perto. Descobrira aos poucos o seu nome verdadeiro, desde pequeno o chamava de Bola.

Não era um nome muito indicado, mas ele parecia não ligar, sempre atendera aos seus acenos. Na maioria das vezes ouvia ao seu chamado, quando passava e aproveitava para lhe fazer agrados, dando-lhe, tacos de pão, de salgados, ia com o tempo amarrando aquela amizade como se amarram os versos de um soneto.

Fizera aquele percurso varias vezes ao dia, examinando cada casa, sondando aqui e ali. Aprendera no curto espaço de tempo quando prestara serviço aos correios, a observar bem os endereços. Sabia o nome de alguns moradores e ao encontrá-los falava com um e com outro. O novo inquilino nem desconfiara daquele estranho que vez ou outra flagrara desfazendo-se em sorrisos afetuosos em sua calçada. Via apenas de sua parte a gentileza e a bondade nos seu atos ao puxar conversa e brincadeiras com as crianças da vizinhança. O fato de vê-lo sempre por perto só podia significar que morava próximo ou que era parente de algum vizinho. Era o bastante para sentir uma sensação de alívio e dissipar possíveis pontas de desconfiança.

O cara era simpático. Boa pinta mesmo! Gentil com todos. Vestia-se com naturalidade. Sempre visto com familiaridade por todos que lhe cruzavam o caminho. Já não lhe parecia tão estranho. Ao sair ou ao chegar sempre o encontrava por perto. Já lhe retribuíra cumprimentos, esboçara um discreto sorriso e tímidos acenos. Até já o defendera frente as acusações feita pela esposa, que desconfiava de qualquer homem que não fosse o seu. Na verdade, não conseguia ver nele uma ameaça ou nada que justificasse a atitude da mulher. Qualquer hora puxaria uma conversa para dissipar de vez qualquer dúvida com relação ao mesmo. Não tinha o que temer, sua casa era bem guardada. Uma pequena fortaleza com grades e sistema eletrônico de alarme e um vigia que vinte e quatro horas estava a seu serviço. Merecedor de total confiança. Toda esta segurança justificava sua tranqüilidade, quietude esta quebrada naquela noite pelo latir incessante de seu cão que bravamente denunciava algo de errado na garagem.

Após a chegada da polícia, ousou aproximar-se do homem que estava enroscado nas grades e vigiado de perto pelo olhar ameaçador do seu amigo cachorro.

Paulo Ivan
Enviado por Paulo Ivan em 30/04/2018
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