INFLUÊNCIAS

O que é ser chato? Será que é quando você simplesmente deixa de fazer algo por não achar correto? Ou por que alguém falou para outra pessoa o que pensa sobre ti? Bem, somos sujeitos a sermos chatos ou fazer com que as pessoas pensem assim, infelizmente. Eu como todo ser humano tinha a tendência de ir na conversa dos outros, e acabar julgando um inocente que nem ao menos me conhecia. Uma atitude inesperada mudou minha concepção sobre os outros.

Maria era minha amiga há mais de dez anos. Havíamos estudado juntas e feito muitas coisas malucas. Ela era bastante popular, conhecia todo mundo do bairro, enquanto a mim, pegava carona nas suas amizades. Nunca fui popular. Então, sob a influência dela, certas atitudes minhas mudavam conforme o que a Maria dissesse. Não procurava saber nem se era verdade, ia logo fazendo o que ela sugeria.

Havia uma garota no bairro chamada Júlia, e a Maria convenceu-me a não se aproximar dela porque era insuportável e arrogante. E a antipatia alojou-se imediatamente em meu ser. Certo dia, alguém se mudara para uma casa vizinha da minha e quando fui ver quem era dei de cara com a tal Julia. Antes que pudesse voltar ela falou “Bom dia”, fingi que não ouvi e fui embora. Não suportava o fato dela morar vizinho a minha casa. E por muitos dias evitei a vizinha inconveniente.

Às vezes, não tinha como evitar o encontro. Outro dia ela chegou com uma fatia generosa de uma torta de chocolate “Olá, achei que você gostaria de uma fatia de torta. Sempre na correria, né!”, fui obrigada a aceitar dando um sorriso sem graça. A partir desse dia passei a observa-la. E a flagrava sempre fazendo algumas coisas como por exemplo: Regando as flores do jardim dela e dos vizinhos, varrendo a calçada dela e a minha também, quase tudo que cozinhava trazia um pouco para mim, sempre sorridente.

Comecei a questionar as concepções da Maria sobre essa mulher, que ao meu ver, estava longe de ser arrogante. Pelo menos nas atitudes iniciais, não. O que teria acontecido para que ela tivesse chagado a este julgamento? Fiz esta pergunta a ela, porém desconversou “Ah, não quero falar sobre isso amiga. Só tome cuidado com ela.” E não adiantava insistir.

O mais surpreendente aconteceu, foi quando tive certeza de tudo. Num sábado pela manhã resolvi pintar a frente lá de casa. Tudo muito prático. Peguei a escada, o pincel e o balde de tinta. Quando estava na metade da escada o meu pé esquerdo escorregou e caí sentada espalhando tinta por toda calçada. No momento da queda gritei de dor com o impacto, chamando a atenção de algumas pessoas, inclusive da Júlia, que correu para socorrer-me juntamente com seu marido. Colocaram-me em seu carro e levara-me para emergência do hospital mais próximo. Depois de feitos os exames, precisei ficar em observação. Olhei para o corredor e vi a Júlia sentada, como se estivesse cochilando.

O incidente tinha sido pela manhã e já passava das 16h. “Meu Deus, ela ainda estava ali no corredor do hospital. Todo esse sacrifício por mim? Alguém que nem sequer falava direito com ela. Porque foi na conversa de uma amiga julgando-a sem nem ao menos conhece-la?”. Pensei, envergonhada. Passados alguns minutos, ela entra na enfermaria com a enfermeira. Sorri e perguntou como estava, segurando em minha mão. Perguntei o porquê de ela ainda estar ali, sem encará-la. E humildemente falou “Rebeca, minha querida, enquanto estivermos aqui na Terra, deveremos ajudar uns aos outros em amor. Viver em paz é fundamental. Independentemente de qualquer coisa, você estava precisando de ajuda e como sua vizinha não poderia deixa-la naquele estado sozinha com um monte de curiosos a olha-la, sem fazer coisa alguma”. Quando terminou, senti uma emoção tão forte dentro de mim que não pude conter as lágrimas. Não consegui encará-la. Como pode alguém pensar mal dessa mulher tão boa e solidária. No momento em que iria retribuir a dedicação, Maria entrou toda nervosa e exaltada empurrando quem tivesse na sua frente. Quando viu quem estava comigo, falou toda arrogante “O que essa mulher está fazendo aqui? Pode sair, não precisamos de você”.

Algo precisava ser feito, então retruquei “Ela fica! Você não tem o direito de trata-la assim. Se não fosse por Júlia e seu marido, não sei o que teria acontecido comigo. Devo minha vida a eles agora. Por sua influência fui capaz de julgá-la sem ao menos conhecê-la.” Terminando, a Maria saiu bufando de raiva alegando que eu iria arrepender-me. E a Júlia aproveitou para me contar o tudo sobre a raiva da Maria contra ela. Simplesmente, ela, Maria, era apaixonada por Joel, atual marido da Júlia que na época era amigo das duas. A Maria culpa Júlia por ele não a ter escolhido. Está aí então a razão de tanta raiva.

Daquele dia em diante com a amizade da Júlia aprendi ser mais resiliente, que é capacidade de se colocar no lugar do outro sem julgamentos ou questionamentos. Aprendi que antes de achar algo de alguém tenho que conhecê-lo antes, sem acolher de imediato os julgamentos de ninguém. E também passei a ter mais fé em Deus.

Enquanto a Maria, nunca mais tive notícias dela. Sem arrependimento, as coisas permanecem iguais.

Existem influencias para o bem e para o mal. Cuidado com quem você anda!

Débora Oriente

Debora Oriente
Enviado por Debora Oriente em 11/04/2018
Reeditado em 14/02/2024
Código do texto: T6306050
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