A RUA BENJAMIN CONSTANT

A RUA BENJAMIN CONSTANT

Para quem não sabe, Benjamin Constant foi engenheiro militar, professor na Escola de Engenharia Militar que ficava na Praia Vermelha, Rio de Janeiro. Foi um dos maiores ou o maior articulador do movimento que provocou a Proclamação da República. Seu nome foi dado em homenagem a um homônimo que foi escritor e político francês. Para a garotada que morava na rua cujo nome homenageia esse grande brasileiro, significava o local de encontros de toda a galera. Simplesmente era a Rua Benjamin Constant ou “a Benjamin”. Era uma rua de terra (na realidade, areia). Caí de paraquedas na turma da Benjamin, pois fui morar na esquina da Rua XV de Novembro com a Benjamin e, aos poucos, fui conhecendo os meninos que, por sua vez, eram amigos desde pequenos. Tinha o João Alemão, o Betinho, os irmãos Silvinho, Serginho, Adinho (Carlos Eduardo) e seu irmão, Monstrinho, Lolinho, Sula, Emeri e Edson Edão, Índio Godoi, Paulo Meireles, Zeca Meireles. Na Expedicionário Vicentinos moravam Neneto, Oliverinho, Pedron, Carlos Detter, a família Ferreira do prefeito Luíz Beneditino Ferreira e muitos outros. Em frente à nossa casa, na rua XV, morava a família Meireles. O Paulo Meireles era amigo do meu irmão mais velho e o José Eduardo Meireles eram uns anos mais velho. Todos tínhamos uma coisa em comum: jogar basquete no Tumiarú.

Atrás das casas da Benjamin, ficava a linha férrea da Estrada de Ferro Sorocabana, e hoje existe as duas pistas de Linha Amarela, que interliga a Rodovia dos Imigrantes com a Praia do Itararé. Na linha férrea existia um desvio cujos vestígios ainda existem, que finalizava num enorme curral cercado de madeira, destinado ao desembarque e acolhimento do gado, que vinha em vagões, para o matadouro, uma espécie de antessala do sacrifício dos animais, chamado de Mangueirão. Após uma longa viagem, o gado era colocado no Mangueirão para aguardar sua ida ao matadouro. Em que pese o aspecto triste, na época era uma acontecimento a chegada dos bois. Quando escapava um ou mais animais do Mangueirão juntava-se uma aglomerado de gente, principalmente meninos, vindos de todos os bairros, para acompanhar a luta dos homens para reconduzir os bichos para o curral. Eram horas de suspense e muitas vezes havia perigo, pois os animais eram acuados e investiam contra a multidão.

Às tardes, a molecada que ia à escola de manhã, jogava futebol na rua: dois pedaços de pau como traves, os melhores tiravam par ou ímpar e escolhiam seus jogadores, seja por habilidade ou amizade. Como todo grupamento de meninos da época. Graças a Deus a televisão não era babá eletrônica como hoje, ainda não se contaminara com novelas e programas infantis. Embora situada no centro de São Vicente, ao lado do maior clube da cidade (C. R. Tumiarú), tinha pouco movimento de carros nas décadas de 50 e 60, era uma rua de terra e local de encontros da meninada. As ruas, na época, eram o play ground preferido das crianças e pre adolescentes. Como não havia áreas de recreação, a garotada inventava atividades, que eram praticadas na rua. A Benjamin Constant, por não ser pavimentada, permitia brincar de bola de gude (box ou triangulo), jogar pião, jogar queimada (preferido pelas meninas), jogar taco (um beisebol de moleque), futebol (preferido dos meninos), pega-pega ou pegador, esconde-esconde, uma na mula, e uma infinidade de brincadeiras que ocupavam todo o horário fora das escolas.

Nas festinhas, uma espécie de protocolo tácito, as brincadeiras eram praticadas com as meninas: cobra cega, uma não lembra o nome que, tapando os olhos da pessoa, o facilitador perguntava “-Gosta desse?”; “O que ela merece?” e, às vezes, rolava um esconde-esconde light, dentro da casa. Os meninos não gostavam muito dessa intromissão das meninas em seu mundo lúdico, mas os pais forçavam a participação de todos.

Mas assim que descobriam as atrações do basquete do Tumiarú, a coisa toda mudava..

Paulo Miorim 04/03/2018

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 04/04/2018
Reeditado em 22/10/2021
Código do texto: T6299317
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