OBRIGADO, DOUTOR!

O mundo está repleto de pessoas alheias ao sofrimento humano, incapazes de promover o bem-estar de seus semelhantes, minorando-lhes as agruras do cotidiano. Felizmente, ainda existem almas indulgentes, filantropas, em cujo peito pulsa o amor ao próximo. Graças a Deus pela existência de pessoas generosas. Que o Senhor lhes dê em dobro o que investiram em ações benevolentes!

Narro os fatos a seguir, tratando-os de conformidade com o que me fora transmitido pelo respectivo personagem. Portanto, vendo o peixe pela fatura, sem nada acrescentar ou diminuir. Espero ter oferecido ao leitor relatos de indiscutível veracidade. Ademais, não serei eu, mero ouvinte em rodas de bate-papo, a dar fé ao que ouvi do autor, pelo que se dizia, pessoa de ilibada reputação. Mas, você sabe...

Pois bem, conheci uma figura humana, segundo suas próprias declarações, revestida das virtudes mencionadas no tópico inicial. Trata-se de um médico, estabelecido com consultório no edifício onde, também, exerci minhas atividades profissionais.

O leitor certamente já percebeu, em minhas últimas crônicas, a citação de fatos ocorridos em determinado complexo empresarial, situado em Brasília. Na ocasião, e nesta oportunidade, menciono-os para recordar um passado quase perdido no tempo, e, também, com o propósito de divulgar as banalidades que fizeram a crônica diária do lugar.

O venerável esculápio, objeto desta declaração, já se encontra nos páramos celestiais. Espero que o Senhor o tenha acolhido em Seu reino, como prêmio à sua generosidade no atendimento despretensioso a desafortunados cidadãos.

Em seus comentários ao final da tarde, afirmava aquele doutor, geriatra de conceituado valor nos meios acadêmicos de sua especialidade, atender a pessoas simples, necessitadas de cuidados médicos, sem lhes imputar a cobrança de honorários. Em alguns casos, fornecia-lhes amostras grátis de medicamentos a fim de mitigar-lhes a dor e o sofrimento. As consultas das pessoas indigentes aconteciam nos intervalos dos atendimentos a ricos e ilustres pacientes, entre os quais, figuras da política nacional, radicadas em Brasília, celeiro de abonados integrantes da roubalheira tupiniquim.

O citado esculápio também se dizia famoso e rico. Afirmava possuir imóveis finíssimos, um deles localizado no Champs Elysées, em Paris. A excelente mansão onde residia no Park Way, em Brasília, e algumas propriedades rurais, extraordinariamente produtivas, integravam seu largo acervo patrimonial.

Quanto à fama, contou em certa oportunidade, ter sido recebido pelo Papa João Paulo II, no Vaticano, depois de dividir espaço com a Rainha Elizabeth e o Príncipe Charles. Disse ser o terceiro da longa fila para cumprimentar Sua Santidade.

Conforme me referi no segundo parágrafo, o peixe oferecido ao leitor está de acordo com a fatura. Vendo-o pelo exato preço adquirido. Portanto, não asseguro a veracidade do generoso atendimento aos pobres, pelo médico personagem destas informações, tampouco avalizo a existência física dos bens declarados por ele, como seus, e, menos ainda, da visita a Sua Santidade, o Papa João Paulo II, no Vaticano, oportunidade em que fora ele o terceiro da fila de cumprimentos, após a Rainha Elizabeth e o Príncipe Charles.

O homem, talvez, fosse um megalomaníaco, pessoa com mania de grandeza, capaz de supervalorizar seus feitos com o propósito de projetar-se à frente dos demais semelhantes. Reporto-me à Bíblia, para lembrar expressões de Jesus: "Médico cura-te a ti mesmo!" Esse doutor, como tal, não conseguiu curar-se do sentimento de predileção por tudo que era grandioso.

No primeiro parágrafo desta crônica, digo que entre os maus existem almas caridosas, indulgentes, filantropas, em cujo peito pulsa o amor ao próximo. Um amor verdadeiro, insofismável. Não saberei dizer se aquele colega de Hipócrates era ou não possuidor de tais virtudes. Gostaria de serem verdadeiras as atitudes propaladas por ele. Se confirmadas, talvez, Deus o tenha recebido em seu aconchego.

No passado, como nos dias atuais, existiam os chamados Fakes News. Por conseguinte...