FESTA NO CÉU

 
Abriu-se o templo de Deus no céu
e apareceu, no seu templo,
a arca do seu testamento.
 
 

Houve relâmpagos, vozes, e um  estrondo como o ribombar de trovões; em seguida, um homem de terno branco, estacionou o fusca preto na faixa que separa o céu da terra. Rasgou um bilhete de loteria e elevou as mãos em prece: ‘Senhor, tu me deste o tempo necessário para plantar e para colher, adiaste a ceifa para que minha alma atingisse a maturidade, segundo Cristo; e prolongaste minha vigília para que eu Te encontrasse, antes do entardecer de minha existência. Eis-me aqui, frágil e dependente da Vossa Misericórdia.
Aliviado, Androceu viu Ramayana apagando o fogo que saia de um tubo com a ponta alargada, outrora, usado por viciados para fumar pedra. Pedra que consumiam. E  sumiam vagando no mundo feito zumbis. Ela apagava os cachimbos de craque, com a água que corria do lado direito do templo.  
Escondido na penumbra de suas más inclinações, o  Anjo Negro se divertia  e bradava com voz cavernosa: ‘Não tem jeito! Condenados! Todos condenados. ’ Ramayana ofereceu água àqueles que tinham sede. E suas almas, antes manchadas, iam tomando brancura. Com efeito, o anjo de voz gargalhada, desapareceu  numa nuvem de fumaça negra.
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Adalberto Lima, trecho do livro "Estrela que o vento soprou."