As águas de março traziam as últimas trovoadas do verão de 2006. Morgana se sentia só. Sozinha, dentro de um ônibus repleto de passageiros. O coletivo  seguia  devagar, como se quisesse prestar continência à floresta amazônica. Viu palmeiras desfilando, desfilando devagar... No céu azul,nuvens carregada. Dispersar,  aqui e outra ali. 
Tudo  era estranho. Desconhecido. Naquela multidão  de passageiros, só conhecia a ela mesma. Talvez... Morgana tinha de  cor um poemeto que fizera; recordação dos bons  tempos de escola. E o recitou baixinho, para massagear seu coração: 
 
Lembranças  me vinham daquela menina. Quando, ainda criança. Pulando  amarelinha que  lhe desfazia as tranças.  Havia nela um tesouro. Guardado em seu encanto. Em cada canto da vida. Fazia da vida um canto.
 
Chorou. 
Olhou novamente atravez da janela de vidro  e viu passar palmeiras, perfiladas como soldado, em ordem de batalha. O transporte  coletivo se aproxima da estação rodoviária. Agora,  em vez de palmeiras, desfilam casas antigas e saúdam, sonolentas, os passageiros. Finalmente, a Ilha do Amor é avistada.
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Adalberto Lima, trecho de "Estrela que o vento soprou."