Tímido, Eu?

Tímido, Eu?

Tenham compaixão pelas crianças tímidas, elas sofrem muito, eu que o diga.

Hoje me arrependo de ter recusado as aulas de violão, naquela época eu tremia só de imaginar em sair de casa; cada um tem sua cruz.

Para um gordinho e complexado comprar roupas, por exemplo, era uma tortura. Meu pai, um homem prático, nos levava, no esquema serviu, comprou. Eu experimentava uma camisa de cetim roxa (!), juro para vocês, completamente embaraçado, mudo, sem conseguir recusar e via duas moças rindo da situação e de mim. Pior que tinham razão, estava ridículo. Mesmo hoje seria inusitado, imaginem para um pré-adolescente naquela época.

Na escola, na hora do recreio, me refugiava na biblioteca, acho que timidez rima com leitura, a parte boa do recalque. Eu lia um livro por dia, acreditem, e no final de semana escolhia um exemplar mais robusto, para durar dois dias. A bibliotecária me ofereceu um prêmio no fim do ano, acredito que concorri sozinho.

Nessa idade os jovens dormem muito, ampliou minha compreensão saber que este recolhimento é necessário para a grande mudança física, mental e emocional que vivenciam.

Vejo os adolescentes no mundo de hoje e suas infinitas possibilidades. Para um tímido, tem o mesmo efeito um caminhão de pedras em cima do peito, um bloqueio, incapacitante.

Como ex-vexado, imploro aos seus corações, paciência! Nada é definitivo. Num jardim, cada planta tem o seu tempo de desabrochar!

Jmmotta

06/03/18