Quando era eu e você e dois celulares desligados - Raul Franco

Eu só tenho uma coisa pra te dizer: eu deixei de te seguir. Não por desinteresse. Mas por saber que você não está nem aí.

Eu deixei de te seguir antes de você me bloquear, porque ontem você já deixou de me amar.

Eu já perdi o teu like, aquele passeio de bike na Lagoa. Eu já perdi uma caminhada à toa.

Eu já perdi o teu beijo. Mas o que é isso diante do desejo de ser parte da tua rede social?

Passeamos pelo orkut, twitter, messenger, etc e tal. Agora nenhuma rede, nenhuma sede, apenas a solidão do final.

Ninguém me compartilha contigo. Eu tenho celular e não te ligo. Desisto de ser teu amado. Contento-me em ser bloqueado ou deixado pra trás numa lixeira virtual.

Logo eu que já fui o teu mundo. Agora sou apenas parte do teu “delete”. Nenhum comment ou moment ou algo que rime com “ete”.

Antes se separar era fácil. Agora tem esse inferno de mudar o status e expor o fato de você ter se separado. É como se você desse satisfação para aquele monte de amigos que você nem sabe quem são.

Ok, devo aceitar o block depois do amor. Aceitar não ver o check-in ou seja lá o que ela postou. Não vou mais ver o seu prato de comida. Nem uma foto que seja de uma natureza morta ou de uma noite com cerveja.

Agora só cruzo com ela naquela lembrança do facebook. E ali estamos juntos. Presos na memória virtual.

Nós dois um dia fomos exaltados e chamados de lindo casal. Está lá, escrito no comentário.

Antes era mais fácil esquecer. Era como socar as cartas numa caixa dentro do armário e pensar que aquilo estava morto e enterrado.

Agora volta e meia você aparece e aquece a minha lembrança. Como uma dança na minha timeline. E perguntam como eu me sinto. Eu respondo: “- I am fine!” Até parece.

Dou adeus, excluindo aquela tua velha foto do meu HD. Mesmo assim eu sei que você continuará existindo para além de um amor internético, que já foi intergalático e poucas vezes apático. E nos fazia querer ficar sem ver o computador. Nós dois, em um passado, lado a lado e os celulares desligados.

O mundo off-line. Nós em perfeito timming, sabendo que aquilo era vida. O amor sem tempo de despedida!

Raul Franco
Enviado por Raul Franco em 09/03/2018
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