O BELO

Hoje refletiremos um pouquinho sobre “O BELO” na ótica de Santo Agostinho de Hipona. Agostinho foi o que mais aprofundou o sentido do belo.

O seu primeiro escrito foi o único texto dedicado exclusivamente à ideia do belo, expressando um pouco o caráter na obra Confissões. Segundo consta nas Confissões, o questionamento que conduz à investigação do diálogo é o seguinte: “Amamos nós alguma coisa que não seja o belo? Que é o belo? Que é a beleza? Que é que nos atrai e afeiçoa aos objetos que amamos? Se não houvesse neles certo ornato e formosura não nos atrairiam” (Conf., IV, 13).

Segundo o trecho citado, existe um pendor no ser humano que o faz voltar-se, contemplar e amar o que é belo, ou seja, tem-se uma teoria estética baseada no princípio do amor e da atração no visual, no olfato, na audição e no coração propriamente dito. Assim sendo, o princípio de que existe uma inclinação natural no humano para com o belo ou, em outras palavras, que só se ama o que é belo, permanece constante no pensamento do excepcional Agostinho, mesmo depois de convertido ao Cristianismo.

A concepção de belo na fase maniqueísta parafraseando hermeneuticamente pode-se dizer que, ao contemplar algo, esse algo atrai a atenção por dois motivos: o primeiro é por seu todo ou sua unidade; o outro motivo de sua conveniente adequação entre as coisas ou entre as partes de alguma coisa, como um sapato que se amolda a um pé, e uma perna que se ajusta ou se harmoniza com o corpo de que ela faz parte.

A ideia de belo é a totalidade ou unidade de alguma coisa que agrada por si mesmo, e não por outra qualidade. Já o segundo agrada não por sua unidade, mas por sua harmonia com outros corpos, o conveniente ou o harmonioso. No primeiro empreendimento literário estético de Agostinho, o belo é o todo de uma determinada coisa que agrada por si mesma, não por sua harmonia com outras coisas.

Agostinho fazia uma estreita relação entre os conceitos estéticos e ontológicos da luz e do belo em si, e todas as coisas belas derivam de partículas da luz recebidas em sua constituição, as trevas e o feio e, consequentemente, tudo o que é feio o é por suas partículas recebidas das trevas. Ou seja, uma coisa é una e bela em si mesma por possuir uma graduação maior de partículas de luz, que é verdadeira beleza.

Portanto, o mundo é, por natureza, perfeito, bom e belo. É claro que não está dissertando aqui sobre a absoluta perfeição, bondade e beleza que pertencem unicamente a Deus, mas desses atributos enquanto participação da fonte que é o Criador. Consequentemente, o cosmos é naturalmente belo, não existindo, assim, nenhuma criatura, independente de sua densidade ontológica na hierarquia dos seres, que não seja bela.

Para Agostinho existe um fundamento objetivo na beleza, quer dizer, o que torna algo belo não é o olhar humano, mas o objeto contemplado é considerado belo por ser objetivamente belo. Logo, o arquiteto persegue a simetria em seu obrar porque ela é bela. É a simetria o fundamento e a conceituação do belo em Agostinho. Os diversos textos dão essa impressão. Agostinho tem boa parte de sua estética fundamentada no Neoplatonismo acerca da afirmação de que a simetria das partes é o fundamento de todas as belezas sensíveis.

A beleza não pode consistir na simetria das partes, se a tese refutada fosse verdadeira, o simples não seria belo, pois, para que algo simétrico seja belo, todas as suas partes também têm que ser belas para que o todo seja belo, não sendo possível que de uma simetria de partes feias surja algo belo e, na medida em que essa tese nega a beleza do simples ou do Uno, cada parte sendo una não pode ser bela, logo, nem mesmo o todo pode ser belo sob o risco de contradição.

Ou seja, o mundo foi criado como uma unidade e, consequentemente, todas as criaturas em suas relações e ações, seja no cantar de um pássaro, na luta entre galos, no som ecoado pelo barulho das ondas do mar em seu encontro com as pedras, na luta pela sobrevivência em que impera a lei do mais forte, enfim, todos esses acontecimentos e muitos outros cooperam e são fundamentais para a unidade que o cosmos é, e, por decorrência, são belos. A beleza é ontológica porque não há criatura que não seja una em algum nível, pois cada parte de um corpo é una, porém, quando as unem, elas formam, nesse corpo, uma unidade ainda mais perfeita chamada de integridade.

É isso aí!

Baseado em Confissões de Santo Agostinho.

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 26/02/2018
Código do texto: T6264927
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