PROFECIA DO TEMPO

Eu sou de um tempo em que não havia preocupação com as medidas da cintura, circunferência dos quadris; não importava as bochechas, nem pensávamos em celulite. Buscávamos a liberdade, sonhávamos com ela, queríamos ser poderosas e livres.

Eu sou de um tempo em que obter direitos iguais era um grito tão forte que até dormindo se podia ouvi-lo. Nesse tempo, mais que tudo, sonhar era preciso. O sonho embalava a coragem que às vezes ia e voltava, queria voar e temia a decolagem. Por uma boa parte da vida chorei esse tempo e as dores que ele me causou. Mas no tempo de hoje, embora grande parte dos sonhos daquele outro tempo ainda sejam sonhos, aprendi que é e sempre haverá tempo para sorrir mais do que chorar, correr atrás, mais que lutar. E se lutarmos, que seja com armas brancas, que seja com o poder natural e infalível de cada mulher. Que não precisemos usar as nossas mãos para ferir a quem não merece nosso esforço de estragar o esmalte de nossas unhas.... Que lutemos com inteligência e malícia, porque não?

Pois afinal, olhando para trás pude perceber que as melhores vitórias foram as que vencemos com amor e sonhos que valiam a pena serem sonhados. Eu também sou de um tempo de coisas feias e doloridas, no entanto hoje, refiro promover aquele tempo como um tempo de preparação, de pré-carnaval da vida. Hoje sonho com um tempo de aplacar a dor sem sangue.

Afinal, se for pra chorar que seja de alegria, de saudade do que ainda não veio e de gratidão por ter sobrevivido.

Então vamos sonhar? Com um Tempo Novo onde mulheres de almas masculinas e homens de almas femininas, em suas sabedorias plenas e infinitas, sejam apenas Um o Tempo Todo?

Do livro: Eu, Terceira Pessoa - Biografia desautorizada de um alter ego, 2016-2018