Chuva que cura

Foi numa tarde do ano de 2012. Era cerca de quatro horas. Eu chegara em casa com uma dor de cabeça um pouco incômoda. Vinha do trabalho.

Deitei-me numa rede na varanda. Olhar para o verde das plantas do jardim certamente me traria algum alívio. Fiquei a absorver com os olhos aquele colírio, que é a imagem de plantas a dançarem ao ritmo da suave brisa que costuma soprar no lugar em que moro.

Além desse bálsamo para a vista, outro santo remédio me foi ministrado pela Mãe Natureza: Começaram a cair gotas de uma chuva deliciosa, que batia nas plantas e no chão, trazendo aquele meu aroma predileto, que já descrevi em outro texto. Esse novo "medicamento" serviu aos olhos, ouvidos, nariz e tato (algumas pousavam com suavidade no meu rosto). Essa é a interação medicamentosa que me faz bem: A visão do verde da flora, associada à chuva que se me exibia aos olhos, aos ouvidos, ao olfato e ao tato, já que algumas gotas tocam meu rosto, como que a adivinhar que era justamente na cabeça que residia meu incômodo.

Mas a "dose" aumentou, e eu tive que sair da rede, que, certamente ficaria encharcada, e tal "overdose" poderia ser prejudicial. Saí da rede. A chuva, caprichosa, diminuiu sua intensidade, convidando-me a retornar à rede. Eu, porém, tive uma ideia melhor: Vesti meus trajes de caminhada e saí em direção à minha "pista" de costume.

Cada pequena gota que caía na minha cabeça diminuía um pouco a intensidade da dor. E tal remédio, presenteado pela natureza, foi-me acompanhando durante toda a caminhada.

Quando cheguei de volta à minha casa, ainda tomei um banho frio. Da dor de cabeça, nem vestígio. E dizem que chuva traz resfriado. Depende do modo de encarar. Eu encarei como um remédio. E foi assim que ela funcionou para mim. Interagindo com o outro medicamento (as plantas molhadas, que me apareciam a cada um dos lados da estrada), as gotas curativas me deixaram pronto pra outra.