Comer, rezar e expressar
Já perdi as contas de quantas pessoas me perguntaram por que eu escrevo tanto e como eu consigo fazer isso com facilidade. Depois de alguns minutos tentando transcrever o efeito daquela pergunta e falhando miseravelmente, a resposta que eu consigo dar sempre soa menos valorosa do que é: "Sou apaixonada por isso e é natural". Depois dessa resposta a maioria dessa gente sorri meio desconfiada e muda de assunto, certamente por não entender a grandiosidade das minhas palavras.
Algo que aprendi depois de tantas tentativas falhas é que nem sempre - na verdade, quase nunca - é possível descrever sentimentos tão profundos para um papel que será lido por pessoas desprovidas de intensidade sentimental, ou talvez porque as situações que me fizeram assim se diferem das outras.
A verdade é que escrever, para mim, é sinônimo verossímil de sentir. Eu sinto tanto que simples dizeres são incapazes de carregar (e transmitir) tanto sentimento. Chego a pensar que eu só existo porque uma pessoa extremamente sábia e bondosa me rascunhou num pedaço de papel com todas as minhas peculiaridades e de tanto Ela acreditar que existia vida nas palavras, eu nasci . Só assim então, eu conseguiria explicar que a minha essência vem da escrita e que nada sou nem posso ser se não através dela.
Em todas as minhas versões futuristas que almejo, lá estou eu escrevendo. Entre tantas metáforas que faço da vida e das pessoas, gosto de falar que sou uma flor e minha fotossíntese é a expressão rascunhada. Nesse mundo desafia(dor) onde muitas vezes me questionei se valia a pena ser sentimental, concluí que já havia tomado minha decisão: em vez de ser humano, escolhi ser flor. Talvez por isso os meus sentimentos sejam tão aflorados.