O NOME E SUA APROPRIAÇÃO

Leio uma obra literária, cujo personagem não se identifica com o nome que lhe atribuíram - "Ponciá Vicêncio". Ponciá vive alheia ao mundo, em função do auto-questionamento da sua identidade, do termo pelo qual é chamada. ´Sim, Ponciá é a própria pessoa que não se encontra personalizada, pois seu nome não lhe traduz significado algum. Viaja num mundo de incógnitas que se deixa expor pela alienada vida, e assim, não dá conta do seu próprio eu. Sem boa autoestima, deixa a vida a levar para qualquer lugar que não seja o de "Ponciá".

Ao longo da minha vida profissional, encontrei nomes estranhos, em pessoas mal e, muitas vezes, bem resolvidas. Não sei se havia justificava que pudesse se coadunar... Foram tantos como "Diolenon", "Odivã", "Roqueana"... Ah, lembro-me de tantos! Nesse mesmo desconforto para quem o possui, conheci em Portugal, um senhor, na função de gerente-geral de uma Instituição Bancária com quem precisava tomar algumas informações para aquisição daqueles serviços. Para tratá-lo, pelo nome, que nos é sempre audível e valoroso escutá-lo, perguntei: - por gentileza, como é o seu nome? Ao que ele de modo embaraçoso, silenciou-se e me estendeu seu cartão de visitas/contato, e para minha surpresa, ali se estabelecia um pacto de aquiescência do viável com a necessária discrição, cuja apresentação era: MARCOLINO ESTRAGADINHO. Não menos nem mais que isso! ... e para o não constrangimento, não o li em voz alta; agradeci, abri a carteira e guardei-o como um troféu do inacreditável,,, de um homem que não pediu pra nascer, muito menos que lhe personalizassem com um ultrapassado pré-nome e um constrangedor sobrenome.

Vale a pena ressaltar que aquele nome - ESTRAGADINHO - era portado por um homem de aparência impecável, num look de um fato (palavra que em Portugal significa "terno"), sapatos modernos e bem cuidados e, para além dessa elegância física, apresentava-se como um gentleman. Enfim, embora nossa identidade justifique alguns desencontros que possam ferir a nossa alma, mas ainda há aqueles que superam e chegam ao pódio, em tantos fatores da vida, como a hombridade de ser e estar acima do nome que lhe apropriaram, honrando-o e o tornando nobre!

Créditos: Mariene Cardoso Santos

Professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira

Praia de Itapoã - Vila Velha - ES

28/01/2018 (domingo)