AGARRADA AO CORRIMÃO

Filhos criados batem asas, sozinhos, e vão ao longe. Gaiola aberta a quem ensinamos lições do primeiro voo. Evidente que, neste caso, o termo gaiola é circunstancial e ajuda a expressar-me. Apenas isso, pois jamais prenderíamos qualquer ser que fosse. A liberdade é imprescindível.

Ingenuidade de mãe fez meu coração pulsar descompassado e descompensado, até maré alta chegar aos olhos, quando o rebento (arrebentavam-se as ondas) pôs-se na estrada. Saberá ele livrar-se dos percalços, sem nossas mãos por perto? Eu não sabia concluir aquele curso, pelo qual não me sentia apta a ser diplomada. O TCC foi difícil, doeu mais que o parto... e ele partiu pelas estradas da vida. Partiu feliz e vive junto com mulher escolhida e amada.

A cada degrau subido, eu lá embaixo agarrada ao corrimão, engolia um soluço e disfarçava o gosto de sal que vinha à boca. Noites de saudades, o meu travesseiro conheceu. O perfume (alecrim) de filho, cuidava do meu coração.

A vida continuou, roda viva dos humanos. Ele encontrou a alma gêmea e a minha tranquilizou. Já não está sozinho. Soltei aos poucos daquele corrimão que já me fazia calos na alma.

Agora, a vez dela chega, a minha menina. Aos poucos vai me mostrando que também aprendeu as lições do primeiro voo. Já me apresenta rasantes e malabarismos aéreos surpreendentes. Conforme Richard Bach, em Fernão Capelo Gaivota, ela sabe que “o mais importante na vida é olhar em frente e alcançar a perfeição naquilo que mais gosta de fazer”. Tentamos, também, ensiná-la que a perfeição não existe, mas que se pode melhorar a cada tentativa. Ela aprendeu e se solta. Sabe que, perfeito, só o Ser que nos criou. Segue, batendo suavemente as asas e sobe, sobe alto.

Para chegar às alturas, necessário é, antes de qualquer coisa, aprender a remar, ultrapassar obstáculos, acompanhar o galope das ondas. E lá vai ela! Rema e deixa ondas para trás.

Mais uma vez, fico segurando no corrimão, o coração apertado, todavia sabendo que, ao formar-se mais um calo na alma, soltarei o corrimão e abrirei a gaiola... mais um pássaro estará livre. Sim, também com sua alma gêmea, liberdade a dois.

Ficamos aqui, os dois, minha outra alma e eu, com nosso barco atracado no porto. Quando voltam os eternos pequenos com seus pares, há festa no convés.

Dalva Molina Mansano
Enviado por Dalva Molina Mansano em 27/01/2018
Código do texto: T6238037
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