ESPECIAL...

Todos prestavam atenção nas histórias que ele tinha para contar. Sempre tão reais quanto o imaginário dos que, atentamente, o ouviam.

Ele era de poucas palavras. Quase nunca falava. Em anos de convívio, vivia das observações... Mas, durante o bate-papo, se algum assunto divergia, logo após a discussão inicial, quando restava aquele primeiro silêncio das desinteligências, ouviam sua voz...

“Uma vez...” Era assim que ele iniciava suas histórias.

Sentavam para ouvi-lo. Suas palavras sempre carregadas de certezas e sentimentos acabavam levando compreensão e ensinamentos sobre as melhores possibilidades de se ver a vida. Nunca o agradeceram pelas histórias contadas. Nunca foi necessário... Após ouvi-lo tocavam suas rotinas em silêncio, mas preenchidos de verdades tão significativas em exemplos tão oportunos e próprios que os tornariam preparados quanto aos possíveis erros do passado, presente ou futuro...

Com tantas histórias vividas e tantas experiências no olhar todos o tinham como um mestre. Assim o apreciavam... Mas, nunca houve um aconselhamento direto. Não... Nunca ninguém o procurava... Sempre a melhor deixa permanecia no ar... Ficava nos intervalos, nas reticências... Raramente uma oportunidade dessa acontecia, mas, em todas, sempre o aguardavam falar... Nunca fora interrompido.

Na madrugada de ontem foi um desses dias... O silêncio já durava alguns minutos. A última reticência parecia estender-se ao infinito. Parecia querer gritar... Dava até para sentir que o vento lá fora implorava o fim do silêncio...

Então, rompendo-se a inquietante calmaria, ouviu-se um descolar de lábios... Eis que, à meia-luz, os olhares se procuraram e a atenção ficou voltada à primeira palavra...

Dessa vez ele iniciou sua fala como nunca havia feito... Olhando nos olhos de cada um, disse que contaria, certamente, senão a história mais interessante da sua vida...

Pelo rigor da explicação, naquele momento, todos acreditavam ser a razão de estar entre nós, ou de ser o real sentido da vida... Ninguém havia percebido que o dia raiva, enquanto a história vivia seu clímax... Aquela história era especial e o encantamento já pairava no semblante de todos. O final, sem dúvidas, era o mais esperado de todos, parecia um conto com final feliz... O mundo naquele momento já parecia outro... até ali já valia mesmo a pena viver. Mas, outra voz interrompeu sua fala...

O carcereiro o chamou pelo nome, abriu a cela e disse que ele estava livre. Até agora não houve final...