DEVANEIO

Hoje eu estava perambulando pelo caminho dos desesperados, sorvendo o néctar da amargura em meio a dissolutos devaneios; sem saber a direção, sem saber a razão, sem saber o porquê (ou os porquês).

A mim mesmo perguntei: “Em que espaço-tempo estaria a minha mente? “Em que espaço-tempo estaria a minha alma?” e nada descobri; resposta não obtive.

Então decidi continuar a vaguear, divagar, procurar sem saber a direção, sem saber a razão, sem saber o porquê (ou os porquês).

Sou “a medida de todas as coisas”, mas todas as coisas não sei medir, não sei mensurar, não sei completar – sou como caixa de Pandora?

Assim sendo, permaneço nesse meandro. O que fazer?

Nesse ínterim, ao longe vejo alguém à beira de um precipício. Parece-me uma mulher. Considerei que ela quisesse se atirar – caixa de Pandora?

Aproximei-me. Então, pude perceber que, realmente, tratava-se de uma mulher de distinta beleza, com a aparência do agora, mas com traços de eternidade.

A proximidade fez-me experimentar o aroma suave e inebriante que seu corpo exalava. Senti-me atraído por ela. Precisava falar-lhe; ouvir sua voz.

Perto... Mais perto... Necessito estar perto, não posso assustá-la.

Agora, a vejo diante dos meus olhos, face a face. Posso sentir o seu hálito quente. Nossos lábios quase podem tocar-se – e seria um encaixe perfeito.

Ouço o som de sua voz, que surpreendeu-me ao dizer que estava aguardando a minha chegada.

“Mas como?” – Confusão! “Não entendo!” – Embasbacado fiquei. “Presumi que você...”.

“Quisesse atirar-me nesse precipício?” ela completou a frase que ainda se formava em minha boca.

“Na verdade” continuou ela, “você que estava prestes a empurrar-me nesse abismo”.

“Não! De maneira nenhuma! Eu jamais faria tal coisa!” contestei com veemência.

“Sim, você!” afirmou-me ela. “Você que está há tanto tempo envolto em seus problemas, com as dores que dilaceram sua alma, com as frustações que o mundo e as pessoas lhe apresentam. Você que deixou de acreditar na minha existência, deixou de perceber minha presença...”

Não, isso não! Como poderia eu dar cabo de tão bela dama? Como poderia eu empurrá-la nessa depressão profunda e vê-la estatelar-se lá embaixo, desprovida de vida? – caixa de Pandora .

Agora, quero tê-la perto de mim para todo o sempre. Quero ser seu amante; cortejá-la a todo o instante. Não posso perdê-la.

Quem é ela? Qual é o seu nome?

“Você sabe quem sou eu!” disse-me ela antes que meus lábios pudessem formular a pergunta. “Eu sempre estive aí, dentro de você” prosseguiu ela.

“Meu nome, Sísifo, é Elpída!”