O VIVO-MORTO

Pai de família morre causando grande comoção nos familiares e amigos.

Passados alguns meses, um dos filhos vê o o pai caminhando no centro da cidade. Depois do susto inicial, se aproxima dele e o abraça. O homem fica atônito e desmaia. Acorda num hospital com todos familiares em volta - esposa, filhos, irmãos. Diz que estava com dificuldade para articular suas ideias, recebe alta e vai para casa.

Corta para outro cenário.

Uma mulher bem pobre de uma pequena cidade do interior do país engravida do namorado. Com medo da reação da família, foge de casa e vai para outra cidade bem longe. Lá arruma emprego como doméstica e consegue esconder a sua barriga crescendo usando vestidos largos. Na véspera do parto foge de novo e vai para outra cidade.

No dia do parto é levada para um hospital público e dá a luz a dois gêmeos univitelinos (homens). Uma enfermeira que a tinha visto chegando na ambulância vai até o berçário e consegue roubar um dos bebês, fugindo com ele. A mulher sai da maternidade com o outro filho sem saber que havia tido gêmeos.

O pai de família que morreu se chamava José Durval. O bebê roubado na maternidade chama-se Luiz César.

A enfermeira consegue uma certidão de nascimento do filho roubado e vai para outra cidade. Lá arruma emprego num hospital particular e desenvolve uma carreira bem sucedida, chegando a coordenar o departamento de enfermeiras. Mas é muito rígida com seu filho, que depois de várias brigas com sua mãe decide ir embora de casa.

Apesar de ter estudado em boas escolas, acaba se tornando um vigarista, aplicando inicialmente pequenos golpes nos amigos e colegas. Como é muito esperto, acaba desenvolvendo um talento especial de persuasão e convencimento, conseguindo ludibriar e enganar a todos que encontra pela frente: patrões, gerentes de banco, fornecedores e até pessoas na rua, a quem aplica golpes com grande maestria.

Acaba desenvolvendo a capacidade de criar personagens e se fazendo passar por eles com pleno êxito. De fazendeiro do interior do Acre a exportador de bauxita, Luiz César vai enganando as pessoas ao longo de sua vida fingindo ser determinado personagem e não despertando em ninguém qualquer dúvida ou desconfiança a respeito.

Nas suas andanças pelo mundo, aplicando golpe atrás de golpe, sempre muda de cidade, fugindo principalmente das pessoas lesadas e da polícia. E acaba chegando justamente na cidade em que morava seu irmão gêmeo. Coisas da vida...

Volta para o primeiro cenário, quando o filho encontra o pai morto caminhando pela rua.

Quando ele percebe que estão achando que é o José Durval, encara a situação como a grande oportunidade de sua vida para fazer sua representação triunfal.

Como é muito inteligente, pega informações que os próprios familiares passam para construir o personagem do irmão e, pouco a pouco, vai convencendo a todos que é de fato o próprio.

Seu medo é alguém sugerir a exumação do cadáver enterrado no cemitério. Decide que todos da família deveriam sair do país, evitando que esta possibilidade fosse cogitada.

Começa a incutir de todos os riscos que o Brasil oferece, principalmente em questão de segurança, e em pouco tempo todos estão convencidos de que deverão abandonar o país o quanto antes.

Um irmão de José Durval é bilionário e decide bancar a mudança de todos, que se mudam para Miami.

Lá recomeçam a vida numa bela casa, com recursos suficientes para viverem sem grandes preocupações.

Então iniciam os problemas. Apesar de o José Durval ter sido aparentemente um marido exemplar, pai atencioso e querido por todos, nos meses após sua morte, a família se reestruturou contando com sua ausência.

Apesar do curto período de meses entre o falecimento e encontro do irmão gêmeo no centro da cidade pelo filho, todos se reorganizaram mentalmente preenchendo a grande lacuna causada pela sua morte concretamente com outros elementos, de forma que não havia mais espaço para ele na vida dos demais. Isso não foi percebido de início, já que todos estavam tomados pela comoção de reencontro.

Quando "cai a ficha" e percebem que de fato aquele homem não fazia mais parte do seu universo, toda a afetividade acaba se transformando num sentimento desenfreado de rejeição, tornando sua presença insuportável.

Então se percebe que, de fato, não deveria ter voltado do suposto além-túmulo.

Estou pensando em transformar esta história num livro, tipo romance. O que você acha? Vou em frente?

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 18/11/2017
Reeditado em 18/11/2017
Código do texto: T6175371
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