O CASAMENTO

por AILTON V. PRIMO

Estava marcado para as oito da noite. Como já tenho certa experiencia, cheguei a Primeira Igreja Presbiteriana as oito e meia. Só estava o vigia. Pensei que estava na igreja errada, mas ele me confirmou que seria ali mesmo. Entrei solitário no imenso salão e fiquei esperando. Uns dez minutos depois chegou um casal, mais uns dez, outro casal. Comecei a me animar. As nove chegaram os músicos e começaram afinar os instrumentos. Nessa altura, com a igreja ainda pela metade, chegou o noivo. Ele, filho do meu primo Cláudio, era o meu motivo para estar ali. Resolvi cumprimenta-lo logo pois desconfiava que não teria paciência para ficar até o fim. Desejei-lhe felicidades, e entreguei disfarçadamente um envelope branco contendo um cheque, que era o meu presente. Ele guardou no bolso do paletó.

As nove e meia, fecharam-se as portas do salão. A noiva chegou e ficou do lado de fora. Todos estavam ansiosos pela sua entrada. e a maioria reclamando do atraso. Daí começou toda aquela encenação que os cerimoniais de hoje utilizam como sendo o que há de mais moderno. Teve até trombetas soando; me senti em Jericó. Logo o noivo pegou um microfone. A banda, que já estava combinada com ele, começou a tocar a música "love story" e ele a cantar uma letra adaptada mas seguindo o ritmo.. "Vem minha doce noiva, que eu pretendo te levar até o céu..." a noiva lá fora com outro microfone respondia "ouço uma voz que me chama, reconheço no seu timbre o meu amado..." e foram assim cantando versos alternados. Quando as portas se abriram, a noiva começou sua caminhada triunfal rumo ao altar. O que se seguiu não estava no programa. Ela ainda estava a meio caminho, quando o noivo entrou numa crise de choro convulsivo. Fiquei pensando, será de emoção ou arrependimento? Já todo banhado em lágrimas, procurou alguma coisa para enxugar o rosto. Enfiando a mão no bolso sacou o envelope branco que eu tinha dado, e fez menção de utiliza-lo como lenço. Olhei fixamente para ele e tive um pensamento cruel: "se molhar não vou dar outro!". Parece que ele leu meu pensamento, ou lembrou do cheque e devolveu o envelope para o bolso na mesma velocidade. Alguém o socorreu com uma toalha e as coisas se acalmaram. Quando Pastor começou a falar já eram dez horas. Todas as atenções se voltaram para ele e aproveitei para sair de fininho desejando mentalmente sorte e felicidades aos noivos.

Soube depois que a cerimonia acabou perto da meia noite. Felizmente meu primo não me viu sair.

AVP - OUT 2017

Al Primo
Enviado por Al Primo em 16/11/2017
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