Medidas Palavras

Na noite de quarta feira dia 30/03 de 2016 muito foi colocado à prova.

Fraquejei e demonstrei o que nunca fiz questão de esconder: toda a humanidade que jorra, ansiosa e compulsivamente, por minhas veias e artérias sonhadoras.

Enquadrado em um paredão erguido pelo ódio, pela descrença e pelo total desprezo ao espaço coletivo, fui incapaz de apegar-me a meus princípios e, também cego pela raiva, não pude manter a necessária tranquilidade para enxergar a realidade e mediar uma possível solução pacífica para aquela briga interessante, apenas para aqueles que se nutrem da falência da escola pública.

Nunca fui e nem pretendo ser autoridade, menos ainda autoridade profissional. Minha incansável utopia é ser cada vez mais humano, ter o poder de depor todas e quaisquer armas, direcionar todas as minhas forças para a construção de espaços de diálogo e me libertar de todos os resquícios de imposição autoritária que ainda habitam meu espírito.

Agora, mais tranquilizado e, espero, um tanto mais evoluído, prossigo carregado de perguntas sobre a ideia e concepção de respeito. Tão alardeado e sempre sacado nos cotidianos duelos respeitosa ou desrespeitosamente travados, ele tem convenientemente servido de arma e escudo para justificar ações e omissões. Mas o que é esse respeito? A quem se dirige? Como se constitui? Seria sele fruto de ações individuais? Ele pode ser imposto? Ele deve ser imposto? Há respeito a espaços, vontades e necessidades coletivas? Ou serve ele apenas de maquiagem para apaziguar a histórica imposição da vontade dos mais fortes?

Convicto do poder da dúvida, prossigo minha missão e minha militância na educação em busca de caminhos e possibilidades para resistir à opressão que teima em subjugar, calar e impedir qualquer possibilidade de percepção reflexiva do mundo que nos rodeia e do dia a dia que nos cerceia.

Sim, sonho com um mundo diferente, sonho com uma profunda transformação da realidade, sonho em poder ser a cada dia mais coerente: fazer de minhas palavras, minhas ações e de minhas atitudes, meu discurso.

Sonho incansavelmente com uma escola que possa se constituir em um espaço de reflexão, de libertação, de percepção, e de transformação do nosso violento cotidiano, no qual muitos de nós prossegue em estado vegetativo, impossibilitados de perceber onde o verdadeiro inimigo está muquiado.

Meus sonhos não podem, não devem e nem serão impostos a ninguém. Apenas continuo correndo em busca de parceiras e parceiros para juntos alimentarmos os sonhos, construir novos caminhos, manter viva a controversa utopia de versejar outro mundo possível. Aos demais, só lamento não ser capaz de demonstrar e nem de poder compartilhar todas essas aspirações.

Cobrado por não medir minhas palavras e no paredão enquadrado, de mãos atadas e cabeça desnorteada não fui capaz, nem acredito que deveria ser, de demonstrar minha atitude frente a palavras e ações que provocaram um total desequilibrio em meu ser. Todo confuso, precisei me afastar do espaço de conflito, não vi naquele momento nenhuma possibilidade de qualquer ação capaz de melhorar e, menos ainda, de resolver a situação.

Continuo não vislumbrando saídas possíveis para uma convivência pacífica e terminantemente recuso o esconderijo atrás de qualquer ilusória autoridade, seja minha ou qualquer outra. Vejo apenas a imperiosa necessidade da construção de um ambiente no qual cada um de nós possa exercer plenamente sua liberdade, sem impedir a existência e a vivência em um mínimo espaço coletivo, no qual possamos dialogar a fim de trilhar caminhos e tornar significativa as nossas experiências vivenciadas na escola.

Almejo arrancar força dessa fraqueza e através dessas desmedidas palavras seguirei em busca de minha humanização, sempre tendo como norte a luta da qual nunca corri, alimentando e compartilhando os sonhos que sempre vivi.

Enfim, muito foi colocado à prova e, durante essas últimas horas, muitas coisas, ideias e experiências voltaram à minha mente. Lembrei e mais uma vez me orgulhei de parte da minha caminhada nessa loucura cotidiana que chamamos viver, também vislumbrei muitos dos meus erros e arrependimentos. Tudo colocado na balança, a cabeça erguida, o coração acalentado e os sonhos realimentados, encerro relembrando Mano Brown: “De vergonha eu não morri, tô firmão, eis-me aqui”.

Leandro

31/03/2016