Nocaute

Estávamos em um ringue, porém não sabia que me encontrava em uma luta... Se tivessem me avisado, teria me preparado melhor para os golpes desaviados. Primeiro foi um soco na altura do estômago que me deixou sem ar, apenas esse pequeno golpe foi suficiente para me colocar de joelhos. Me levantava com dificuldades e jamais imaginaria que outro ataque ocorreria na sequência, isso é, não com a intensidade que veio... Ainda ofegava quando senti os dois pés no peito que me derrubou longe. Por um instante tudo parou, era como se não houvesse tempo ou espaço, consegui ver toda a sua fisionomia pairada no ar, o corpo perfeitamente simétrico, contudo com os pés apontados para minha direção. Era como se minha mente recusasse a processar o que lhe aconteceria a seguir: a dor, a sensação de impotência, a náusea... Agarrei-me fortemente a esse "instante inverso", embora ambos sabiam que ele não duraria para sempre. Os dois pés chegaram ao seu destino final. Certeiros e pontuais.

Ainda no chão, com os olhos marejados, olhei com desespero para meu agressor... Não conseguia entender os motivos do golpe... A situação tornara-se incompreensível. Como fui parar ali? Que caminho tomei para chegar neste resultado final? Mas, como quem já esta derrotado e ainda insiste em se agarrar na esperança, levantei... Tentei revidar com toda a força que ainda me restava - feito criatura orgulhosa, que precisa manter sua honra intacta. Foi quando ia tocar sua face, quando já estava com as mãos levantas, que subitamente me desarmei. Saí da posição defensiva. Respirei fundo. Nos encaramos novamente... Virei e saí do ringue... Olhei três vezes para trás e, em todas, avistei seu punho cerrado. Desisti. E assim aprendi que em algumas lutas na vida sairemos nocauteados.