Um Fim de Tarde

Acordo com boa disposição ouvindo o som dos pássaros, já que não resido mais na metrópole de concreto armado, o que me dá certa nostalgia do som de Sampa saudades da antiga vida. Observo ruas quase desertas pela tranquilidade dos habitantes acordando para o dia que inicia.

Por mais que as pessoas estejam distante de sua localidade, uma parcela significativa passa a chamar-lhe de vizinho e com toda a educação cumprimenta com um singelo "bom dia", típica atitude de cidade interiorana e aprazível.

Então, pude contemplar uma movimentação mais acelerada ao decorrer das horas nas ruas estreitas desta cidade, verdadeira miscelânea de veículos, bicicletas e motos trafegando nos locais deslocando seus destinos aos estabelecimentos comerciais e empresariais das cidades vizinhas. O movimento começa a desacelerar de acordo com o fluxo de pessoas em seus pontos de trabalho, vejo-me caminhando pelo centro da cidade observando o cotidiano dos indivíduos ao meu redor, alguns guris despreocupadamente passam ao lado, talvez não quisessem ir à escola ou tenham desistindo por hoje enfrentar à professora e voltaram para casa, provavelmente os pais saberão da traquinagem quando regressarem aos lares.

Vivo refém das estatísticas sóbrias do desemprego no qual atinge milhões de brasileiros valorosos, enquanto vou caminhando verifico algumas pessoas trilhando nos comércios e empresas procurando a felicidade de encontrar uma oportunidade por menor que pareça aos olhos, atualmente qualquer chance é a melhor de todas e permanecer empregado realmente é um desafio diário nesta terra de gigantes. Continuando minha saga ao emprego perdido, vou em um destes centros de captação profissional no intuito de conseguir algo, recebo a senha e aguardo minha vez. Rostos esperançosos unem-se a mim numa corrente célere na busca do prêmio inigualável, quanto mais aproxima a minha hora aumentam sobremaneira o medo da decepção, contudo alegro-me quando um candidato recebe sua cartinha de recomendação à vaga mesmo não sendo garantia da conquista, porque outros candidatos recebem a mesma recomendação.

Enfim, sou atendido por uma garota muito atenciosa, com parcimônia ela procura no sistema uma ocupação no qual atenda o meu perfil. Ficamos conversando por alguns minutos enquanto analisava as vagas disponíveis, mantive a esperança naquele propósito confiante na busca da atendente, porém, o castelo desfez-se na dura resposta: "lamentavelmente não temos vagas no momento para o seu perfil."

O desânimo abate momentaneamente meu espírito, agradeço à atendente pela oportunidade e retiro-me do local prestes a saciar meu corpo com alimento, como estou em uma cidade vizinha realizo uma rápida pesquisa de estabelecimentos com preços baratos. Encontrei um restaurante agradável, alimentei-me com fartura e saí agraciado por ter recursos para pelo menos saciar a fome. Aquele abatimento inicial foi esquecido graças à garra alojada em meu coração, mesmo diante das crises confio no porvir controlando secretamente as instabilidades sem deixar a mente agredir o físico levando a depressão.

Quando preparava-me a voltar de ônibus para casa, uma atração bastante interessante posicionou-me a permanecer na cidade e seguir em direção do mar. Observei que o fim de tarde aproximava-se, o Sol inclinava-se a morrer no horizonte aumentando a beleza daquele mar.

Fitei meu olhar pensativo transportando os sonhos na direção à imagem do pôr-do-Sol, lembrei-me de Vinicius de Moraes no Soneto da Maioridade que dizia:

"Ao Sol, que é pai do tempo, e nunca mente

Hoje se eleva a minha prece ardente:

Não permita ele nunca que se afoite."

Aguardo que este Sol leve minha prece para que nunca se afoite meus lamentos diante do que virá, mas eleve minha sorte na esperança do amanhã.

Luis Profeta
Enviado por Luis Profeta em 27/10/2017
Reeditado em 27/10/2017
Código do texto: T6154272
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