Prelúdios para o fim da poesia

Se o poeta xinga, é antes porque xingam por aí em seu nome, do que ele xinga através do nome dos outros. É apenas o seu dever anunciar e desanunciar os ditos que, como um medidor de esquecimentos das vozes espaço-temporais, o seu alterego clássico, o escritor universal pressupõe um leitor universal. Já aqui, poderíamos repetir uma poesia reminiscente de nosso passado cultural, que é a perversidade diabólica que a tradição das tradições decidiu vestir a classe de seus combatentes literários, apontando para uma natureza maldosa associada com qualquer desvio de conduta de origem lunática dos mesmos. Mas eu diria que os poetas não declamam maldades por que o são, em nome de qualquer espécie de maniqueísmo conceitual, todos maus; e sim por que a experimentam quando gritamos maldades nos seus ouvidos. E antes, que algum desavisado irrompa o fluxo onírico dos discursos poetizantes, é preciso alerta-los do embaraço que é para a própria poesia ser o que ela é. Pois a poesia, acorrrentando consigo todos que dela se animam, amaldiçoa por um comprimisso fatal com a língua, o iniciado nos ritos poéticos, eterno condenado à mania de sua arte, a ter que cuspir a fala. Deixando-o muitas vezes em dessintonia com aqueles que compartilha os seus dias, já que a vergonha dos mistérios pode assustar, como um abismo que paira sobre abismos, as profundezas de quem se senta ao seu redor. Muito menos deve se cantar elegias à poesia dos que poetizam pois nem todos prescrevem o martírio literário como sua política de escrita, e alguns inclusive, da estirpe dos que são possuídos pela ancestralidade do dizer, não necessitam da tecnologia do papel, pois aprenderam como eficientes contempassados que são, que a sabedoria dos escrivães é somente uma das personas dessa mesma raça. É preciso ter sotaque de loucura para devorar esse projeto de europa tropicalis, que narram ser o Brasil, e aquele que diz não dizer, o que aprendeu a desler, dançando no núcleo atômico de Barravento, escorre discursos preci(o)sos com os silêncios das vozes da memória, pois sabe que o segredo mais seguro quanto enigmático da arte poetizante em todos os infinitos possíveis é: o dessaber.