JABUTICABEIRA

Minha avó Hermínia, foi figurinha marcante na minha vida. Sempre vou lembrar de histórias vividas com ela.

A de hoje é sobre a jabuticabeira que ela tinha no quintal.

Essa jabuticabeira é mais uma lembrança afetiva, que carrego na minha memória.

Vovó morava numa fazenda. Fazenda Água Nova, em São Manoel, SP.

Mas, com os filhos crescendo e precisando estudar, mudaram-se para a capital.

Com ela, veio também o espírito da plantação e dos pomares que tinha. As casas, naquela época,tinham quintal nos fundos.

E lá, minha avó plantou uma jabuticabeira. Mas não era dessas jabuticabas pequeninas que compramos na feira. Era uma espécie que nunca vira em outro lugar. Jabuticabas do tamanho de uma ameixa. Com várias sementes dentro. Muito carnudas.

Em época frutífera, juntávamos tios e primos para a “colheita”. Quando acabavam as “neguinhas” de fácil acesso, no tronco baixo, os primos mais leves e ágeis, subiam no pau liso da árvore e enchiam potes

das frutas que estavam no topo.

Então sentávamos em volta da bacia com as jabuticabas dentro d’agua, e ali a gente se enfastiava das “pretinhas”.

Tão fresca, que fazia ploft, a cada mordida. E competíamos para ver quem fazia o “estouro” mais alto.

Os mais espertos, deixavam a boca de um jeito, que nunca consegui fazer igual. Assemelhava a um alto falante, e intensificava o som. Sempre ganhavam.

Mas nem tudo era doce. Porque nos entupíamos, literalmente, daquele fruto.

E a alegria estonteante daquele dia, era vivida em dobro, em agonia, nos dias seguintes.

Mas faz parte da brincadeira. Porque comer daquelas jabuticabas, era igual parto normal.

Mulher sofre, mas sempre engravida de novo.

A gente era assim. O sofrimento nunca era maior do que a alegria vivida naqueles encontros de pura farra e diversão.

Cristina Verducci