A SACOLA

Enfadado das múltiplas vozes que me requisitavam naquele minúsculo ambiente de trabalho,todas elas vestidas de uma falsa súplica,egoísmo e empatia zero com todos os procedimentos que eu haveria,por obrigação,executar naquele recinto.

Cheguei a pensar angustiado:

"As pessoas são desprovidas de bom senso em sua plena idade madura?"

Mas não,de súbito percebi que a selvageria do dia a dia coage as pessoas agirem desta forma.

Mas também não descartei minhas teorias obscuras sobre a malícia humana naquele momento,repousei-as,respirei fundo...

Perto de mim encontrava-se uma sacola de plástico de um transparente translúcido que mergulhou-me numa paranoia curiosa e banal,imaginei o universo particular dentro daquela sacola: morta,inerte,passiva à tudo que o fizessem com aquele produto.

Mas ela me parecia tão acolhedora,apenas por estar ali tão alheia a tudo que me atordoava,sua tênue e frágil textura e formato,eram ao meu meu ver potencialmente segregadoras daquela cena hostil em que eu me encontrava.

-Devo estar louco!

Pensei meneando a cabeça e cerrando os olhos para aquele pensamento idiota esvair-se como quem nunca o tinha chegado.

Me chamaram mais uma vez na porta,eu fingi que não escutava.

Naquele espaço de tempo só existia o recinto,a sacola e eu.

Segurei a sacola e aquele tato cúmplice só confirmava minha teoria absurda de que a paz morava naquela sacola...

-Meu Deus,me leve! Pra mim já basta!A que ponto cheguei?

Soprei com força dentro da sacola,meu rosto foi tomado por um rubor,a sacola me chamava para apreciar o momento dentro daquele interior alheio à todo aquele cenário de louco(olha quem fala).

Não pensei mais uma vez,pus minha cabeça dentro da sacola com os olhos fechados,abri-os de ímpeto com a cabeça dentro e era claro e sensorial que minha respiração aquecia e umedecia toda sacola;a ausência parcial dos barulhos ambientes findaram de forma no mínimo acolhedora e maternal no interior daquele porto seguro,minha vista repousou no translúcido daquela cor indefinida,estava descansando meus olhos de todo aquele cenário que me entediava no correr dos dias,por instante gozado pensei ser o "Major Tom",absorto de toda realidade massante.

Permaneci uns minutos assim,desfrutando da dádiva de tornar-se arrebatado por nada,por muito pouco,pasmo com as dimensões de onde minha consciência,ou súbita falta dela,me levaria...Gozando da rota possibilidade de um devaneio provocado,atiçado por mim mesmo,por minutos de loucura iminente me vi na sorte de ser um estrangeiro de todo cenário que eu compusera até então ,um felizardo desviado da rota cósmica decadente.

Desde aquele dia ando sempre com uma sacola no bolso.

Torquatto
Enviado por Torquatto em 07/10/2017
Código do texto: T6135954
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