Os sertões de minha alma

     Um dia, alguém me perguntou qual era o livro mais querido da minha estante, aquele que eu levaria caso fosse obrigada a optar por um. Eu bem poderia responder: Nonada, isso não tem importância!, mas como posso dizer isso se o sertão está em toda parte? Aqui nessas prateleiras impossível dizer "tanto um era ruim, como ruim o outro era", pois nessas paragens só se esconde cabra bom e o pensamento da gente se forma mais forte que o poder do lugar; porém, todos os outros que me perdoem porque, "enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opinães... o sertão está em toda parte", rejeito seus argumentos, minha escolha é uma só.

     Eu bem que tentei me apegar, com o mesmo sentimento, a outras páginas - "eu versava aquilo em redondos e quadrados. Só que coração meu podia mais...e foi Diadorim que me ensinou a apreciar essas belezas sem dono". Fermina bem que tentou me convencer do encanto de navegar nas águas do Magdalena, mas, logo ali, avistei o Rio Carinhanha, pertinho de mim, e Guimarães já atravessava, roseando as margens dos meus encantos.      
     Gabo ainda retrucou que o amor de Florentino esperou cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias, mas Rosa sorriu, com a ternura do olhar já nas águas do São Francisco, e eu compreendi que Riobaldo amou sem nada poder esperar, encantou-se com o proibido e desafiou o tempo da eternidade amando para sempre Diadorim...Reinaldo...porque o que brotava e rebrotava nele eram essas demasias do coração. Amou sem permissão.

      Meu amigo, mire e veja, nenhum outro se compara a meu Grande Sertão: Veredas de minha alma - sinto que já respondi tua pergunta, levaria só ele caso me fosse dado o castigo da escolha. Você não me entende?, então bota assunto nele e entenderá. Nunca mais larguei esse livro depois do dia que vi Riobaldo exclamar, cheio de dor:

      - "Meu amor!"

     A dor dilacerava aquela alma e ele se debruçava na janela para poder não presenciar o mundo, porque o amor que existe, de verdade, é aquele que ama como pode, sem escolhas...travessia. "Diadorim, minha neblina".
Wal Bittencourt
Enviado por Wal Bittencourt em 29/09/2017
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