DOR E PRAZER, EM BUSCA DE SATISFAÇÃO

Para ferir a alma da mulher que tanto amou tem que haver muito desprendimento. Será que toda a maldade proferida fora para vingar da ausência do beijo com gosto de amora?

As desventuras, as investidas sem sucesso podem ter levado ao infortúnio.

Os olhos negros, a face aveludada, o corpo esbelto, o colo dulce, os seios saltitantes poderiam proporcionar prazer. Mas tu detectaste em tudo aquilo um desdém desmedido. Todos aqueles atributos que poderia te satisfazer, eram agora objeto de inveja e ciúmes.

Passava noites copulando, gemendo, se diluindo em gozo com qualquer outra fêmea. E ela foi condenada, levada ao cadafalso por tua culpa. Preferiu abandonar o lar, o marido e o filho. Encantada com teus assédios, cedeu aos teus encantos. Tu a forçaste a fazer sexo bucal, mesmo abominando, por formação ética ou por desajeito. Sexo anal jamais conseguiria. Aquela boa alma até tentou, mas decidiu não continuar por causa da ardência.

Foi amor em grande sacrifício. Sem entender que amor exigia sacrifício e que sacrifício resultaria em submissão ou em afeto, apenas aceitou a porfia.

O amor seria dorido, seria movido a sexo ou as duas coisas se confundiam?

Os acasalamentos deveriam ser brutais para produzir satisfação e as satisfações mais doloridas seriam as que mais produziriam recordações de apego e sentimentos de afeição?

Acariciar as genitálias sem articular uma palavra, pedindo para beijá-las, nem seria acasalamento: era mais masturbação.

Entre tímida e duvidosa ela ficava hesitante.

Era apenas tocada pelos desejos sensuais, regada às secreções que as glândulas erógenas expeliam aos mililitros.

Totalmente tocada pela libido, tornara-se adúltera, leviana. Fora pérfida para com o marido. Mas ele jamais a satisfizera sexualmente, jamais tocou seus seios, sua genitália. Jamais tocara a maciez de sua púbis no momento do coito, nem afundara a mão pelo cócix.

As relações se resumiam a uma penetração rápida e ríspida.

Ela não queria sentir dor em nome do prazer, queria apenas prazer, mesmo que a submissão fizesse parte do jogo. Queria ouvir sussurros ao ouvido, beijo no pescoço, mordidinhas, afagos e elogios eventuais ou inverídicos.

Até os xingamentos, palavrões seriam melhor que uma cópula silenciosa, presunçosa: mais obrigação do que busca de satisfação.

Era aí que ela considerava não ter traído. Tinha sido traída, concluiu, porque o marido não tinha lhe proporcionado o prazer prometido.

Não lhe dera amor em todos os momentos conforme jurara, por ocasião do matrimônio. Jamais havia dialogado, nunca dissera que a amava, jamais havia dirigido uma palavra sequer de carinho.

Nenhuma palavra, nenhuma sugestão, nenhum questionamento.Somente dor e desprezo aos prazeres.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 23/09/2017
Código do texto: T6123041
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