Um dia difícil.

O relógio e o cansaço do dia, me disseram que já era tarde, que precisava voltar para casa, mas não é bom sair assim, sem uma pausa para que as células e os neurônios voltem ao lugar, pois dirigir por avenidas congestionadas requer atenção.

Saí da mesa e fui até a máquina de "tranqueiras", enfiei a moeda e apertei o botão, queria uma barrinha, o espiral girou e não me entregou o produto, ficara bem na pontinha. Dei alguns tapas na máquina, que não se sensibilizou nem um pouco...desisti. Preenchi o pequeno requerimento reivindicando a moeda, sem preocupação ,pois sabia que a dona da máquina devolveria o "furto", então resolvi pegar um café com a outra moeda, na máquina ao lado, que veio quente naqueles copinhos de isopor, a pazinha caiu por ultimo , como estava frio me pareceu muito bom. Já eram quase oito da noite, e voltei tranquilo para fechar a mesa, quando dois superiores se aproximaram para falar de um processo de compra, bastante complexo. Tudo bem !

Tentei explicar o que sabia, que apesar do fabricante americano ter uma filial no Brasil, havia uma "Trading " de Nova York em melhores condições, e que a cotação estaria completa, pois o fabricante teria a sua cotação presente no processo, para que não houvessem falhas de "Recap", e que teríamos um ganho alto naquele projeto. Fui mal interpretado por um gerente maldoso , que duvidou da minha honestidade, dizendo : " Sei não ,aí tem !" Aquilo me irritou profundamente, e quis tirar satisfação na hora, mas fui afastado pelo outro, à seguir se retiraram. Era demais !

Era normal prolongarmos a jornada de trabalho sem nada receber à mais, pois nos diziam que o bom profissional de área técnica não se prendiam a horários, como uma ameaça velada. Alguns anos depois é que veio o tal do "Banco de Horas", o que minimizou essa "chantagem" .

Fui pra casa revoltado, com ódio daquela gente, e resolvi nunca mais ficar além do horário, pois sabia o quanto eu me dedicava e se não conseguisse terminar a tarefa por falta de tempo, que ficasse para o dia seguinte , e pronto.

O tal projeto comercial passou por todas as análises : técnicas e financeiras, o que não me surpreendeu, pois sabia que era consistente e limpo, bem amparado por documentos , com bom "remark" (um relatório), eu era muito experiente, e a nossa empresa realmente lucrou mais de r$ 500 mil, além da excelência de qualidade.

"Eles haviam errado feio comigo", pensei, o que aumentou ainda mais a minha indignação. Nos dias que se seguiram a Produção enviou os agradecimentos formais, me parabenizando, o que fez com que aquele gerente também viesse me cumprimentar, mas ignorei, nem lhe respondi. Sou muito orgulhoso quando o assunto é dignidade.

Não mais fiquei até mais tarde, a não ser que me pagassem, afinal eu era funcionário à disposição da empresa, viajava e tudo, tudo desde que remunerado. Meu horário era das 7:30 às 16: 30 h, e assim foi até me aposentar e pedir para sair. Hoje , quando vejo a marca de carros na TV, me vem à cabeça tantas coisas...que não consigo muito olhar para os produtos, vejo a minha vida durante 35 anos.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 23/09/2017
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