Uma certa 8a série

Revisitar o passado é faca de dois legumes, “a gente ri, a gente chora”, ai ai.

Muito menos pelo reencontro com os outros, mas muito mais pelo reencontro consigo mesmo. Pelo que você queria ter sido e não foi, pelo que você foi e não queria ter sido...

Revisitar o passado é pegar o touro pelo chifre, é se machucar, mas não se importar muito mais com isso. É amansar o bicho e caminhar junto.

Uma certa 8ª série... me fez perder horas de sono, me fez temer este reencontro com meus demônios, me fez relembrar, relembrar, e com pesar, perceber que não consigo relembrar de muita coisa e de muitas pessoas.

Uma certa 8ª série, me fez rir das palhaçadas de sempre da galera do fundão, me trouxe a memória algumas músicas e poemas que a professora de português nos apresentou e que ajudaram a formar o meu gosto...

Queria ter tido bem menos dos quarenta 10,00 costumeiros dos meus boletins, queria ter sentado menos na frente da lousa e olhado mais ao meu redor. Queria ter passeado mais pela sala de aula... se fosse hoje, sentaria cada dia em um lugar, e me daria a oportunidade de conhecer mais meus queridos colegas.

Teria menos medo do mundo e menos medo do que o mundo achasse de mim. Teria sido mais leve... e acrescentaria uma boa pitada de malícia! Ah sim, não seria chamada de menina de ouro, nem de menina ajuizada, não não.

Revisitar o passado é descer de uma bicicleta que eu não desci, e bater na porta de uma colega que estava ficando cega...

É aceitar a frustração do beijo que eu não dei, por pudores vindos sei lá de onde e engolir minha vontade reprimida.

É não entender por que ficar apaixonada por tanto tempo, por uma pessoa que mal troquei meia dúzia de palavras...

É respeitar o sentimento de outra pessoa, mesmo que não tivesse o mesmo para dar em troca.

É aceitar que você tinha as melhores amigas, mas que não era a melhor amiga de ninguém.

É não se incomodar mais com o silêncio dos anos, após não ligar e nem procurar mais.

Uma certa 8ª série, me fez ensaiar os primeiros beijos de novo, ver um sapo se transformando em príncipe e depois ser rechaçada por ele...

me fez dançar uma música lenta da década de 90 e ficar super empolgada nos soarês enfeitados com lona preta e um joguinho de luz fraquim fraquim...

Revisitar o passado, “é ter coisas que não dá pra esquecer, que não ficaram só no cérebro”.

É de repente, viver o significado de uma letra escrita em um antigo caderno de português, em uma sala de aula, de uma tal Escola Estadual Frederico Jayme :

“Olá, como vai ?

Eu vou indo e você, tudo bem ?

Tudo bem eu vou indo correndo

Pegar meu lugar no futuro, e você ?

Tudo bem, eu vou indo em busca

De um sono tranquilo, quem sabe ...

Quanto tempo... pois é...

Quanto tempo...”