Morte
Numa terra longínqua, bem distante de nossos olhos comuns. Quase tão além quanto o além do mundo. Aconteceu de desaparecer uma estrela. Todos comentavam.
--- Era bem aquela que ficava por de cima da venda do Sr. Bonsucesso. À esquerda dos trilhos da estação, à estibordo da loja de penhores.
E todos viviam ansiosos, comentando por todos os lados o dito sumiço. Velhas diziam se tratar de fim do mundo. Casais apaixonados acreditavam ser a morte do amor verdadeiro. Pescadores asseguravam ser o vaticínio da escassez de peixes. Joana Costalarga foi a primeira que notou o desaparecimento da estrela:
--- Olha, Claudio! O céu engoliu a estrela Azurtina. Foi eu piscar os olhos e ela tinha desaparecido.
Nem todos observam o céu, nem todos gostam de sol, nuvem, estrela, lua, essas coisas que ficam sobre nossas cabeças. Eram os mais despreocupados sobre o desaparecimento:
--- Isso é resultado do ócio excessivo. Acreditam em tudo. Onde já se viu, acreditar que sumiu uma estrela. Todos sabem que elas são costuradas com linha permanente e nó bem dado nesse pano azul que chamam de céu.
Mathias que vivia bêbado caçoava pelos cantos:
---Deus esqueceu de pagar a conta de luz. Ou não pagou o banco e penhoraram essa estrela.
Todos nós sabemos da gravidade de perder uma estrela. Não se trata de coisa pouca. Significa que Deus está arrumando as malas e vai se mudar para outro planeta.
Rosa que acabara de perder seu filhinho tinha certeza que o sofrimento era o causador. Como se a tristeza em demasia drenasse a claridade. Muitos ficaram com medo dela apagar o Sol.
Como não existe nada que o tempo não consuma. Nada que não desvaneça com seu tic-tac tirano. O sumiço da estrela acabou sendo esquecido.
Joana, que foi a primeira a notar a evaporação do astro chegou a dizer o seguinte: “Depois que eu notei aquilo tudo foi que me apercebi de ter esquecido da finada minha mãe. Acho que as estrelas são nossos mortos enquanto lembrados."